Mês: abril 2019

Tudo acaba em pizza, a história…

A famosa frase que se eternizou no Brasil para justificar as mazelas políticas, na realidade tem uma origem no mundo dos italianos que aqui se estabeleceram, ou seja há mais de 100 anos tudo já acabava em pizza.

O que se sabe é que a pizza chegou ao Brasil através de São Paulo, entre os séculos 19 e 20, trazida pelos imigrantes do sul da Itália. Se tornou uma paixão nacional com o passar do tempo.

Por aqui a primeira cantina a prepará-la foi a Cantina Santa Genoveva, aberta no início do século passado, em 1910, no bairro do Brás. 

Funcionava na então bucólica avenida Rangel Pestana e seu proprietário era o napolitano Carmino Corvino, conhecido como Dom Carmenielo. Seu desembarque por aqui, ocorreu em 1897 em São Paulo. Junto com outros imigrantes, começou a trabalhar na cidade vendendo pizza na rua, cortada em pedaços.

Ele a preparava em casa no forno que tinha disponível e as transportava em um tambor portátil, com carvão em brasa para mante-las quentes. Quando conseguiu juntar dinheiro suficiente, fundou a pioneira Santa Genoveva.

Com a iniciativa de abrir a primeira pizzaria, Dom Carmenielo enriqueceu, mas acabou perdendo tudo e morreu pobre.

No início a pizzaria oferecia apenas três sabores tradicionais: mussarela, aliche e napolitana. 130 anos separavam a pizzaria brasileira da primeira no mundo que foi a “Pietro… e basta cosi”, inaugurada em 1780, em Salita S. Anna di Palazzo, Nápoles/ Itália. Claro que o proprietário se chamava Pietro Colicchio.

Mas no Brasil a casa de Dom Carmenielo virou ponto de reunião dos italianos, sobretudo dos barulhentos e simpáticos napolitanos. Além de preparar a pizza em quatro variações tradicionais – mozzarella, napolitana, alice e mezzo a nezzo (alice e mozzarella), Don Carmenielo divertia a clientela com a potente voz de tenor. Morava nos fundos da cantina com a mulher, Anunciata, também italiana do sul, e de família numerosa. Ali havia sempre um cômodo para acolher os amigos italianos que chegavam em dificuldades.

Tiveram oito filhos. A cantina Santa Genoveva fechou há muitos anos e procura-se alguma imagem do local a época. Um dos netos de Dom Carmenielo, Nelson do Carmo Corvino, abriu uma cantina e pizzaria na Av. Pompeia, 765. Chamava-se Recanto Di Carmo. Depois mudou o nome para Dom Carmenielo certamente em homenagem ao avô.

Agora a expressão “tudo acaba em pizza” se popularizou durante a crise política de 90, para depor Fernando Collor e começou a ser usada frequentemente para designar os escândalos que acabavam sem punição. A frase sempre é uma dura crítica a mania nacional para a impunidade dos crimes políticos.

Mas não é neste meio político que a frase surgiu. A expressão também surgiu em São Paulo na voz do falecido cronista esportivo Milton Peruzzi, que criou a frase para uma matéria do jornal “Gazeta Esportiva” na década de 60 que retrava uma reunião que durou 14 horas onde os dirigentes do clube se digladiavam em uma batalha verbal sem precedentes. Movidos pelos clamores do estômago, dirigiram-se para matar a fome na vizinha Cantina e Pizzaria Genovese, onde devoraram 18 pizzas gigantes com Milton Peruzzi presente na reunião, já que era palmeirense roxo. Com essa quantidade de pizzas finalmente todos se entenderam.

No dia seguinte, a manchete da reportagem de Peruzzi, em A Gazeta Esportiva, era: “Crise do Palmeiras terminou em pizza”.

Após a matéria, o jornalista começou a usar a expressão em outras reportagens, sempre utilizando-a quando queria informar a seus ouvintes que depois de algum conflito tudo acabará bem com uma rodada com as redondas amarelas.

Com isso transformou a expressão no sinônimo de “acabar bem” com a pizzaiada, ao contrário do que é usado amplamente hoje que termina em pizza por que não acabou bem.

Num primeiro momento a expressão de Peruzzi ficou restrita à São Paulo e se tornando equivalente à expressão no Rio de “acabar em samba”.

O novo significado da expressão nasceu em 31 de julho de 1992, quando a paulista Sandra Fernandes de Oliveira depôs na CPI do PC Farias e desmontou sozinha a chamada “Operação Uruguai”, bolada pelos defensores de Collor para vender à nação a mentira de que a fortuna pessoal do presidente não provinha da corrupção, mas de um empréstimo feito no país vizinho.

“Se isso realmente acabar em pizza, como querem alguns, acho que é o fim do país”, disse a secretária ao microfone da CPI.

A associação da expressão ficou tão associada ao lado pejorativo que virou até filme. Uma produtora de filmes pornô depois de explorar dois filmes associados ao momento atual sendo eles, Leva Jato (2016) e Felação Premida (2017), produziu o Tudo Acaba em Pizza, onde o ator principal interpreta um presidente da República, que em seu governo, não consegue aprovar nenhum projeto tendo que corromper os deputados e senadores com sexo, ao que depois reúne todos para saborear as redondas amarelas.

Mas apesar deste apelo negativo ter se consolidado, é fato que a mania do culto a pizza é que termina sempre bem dentre a população brasileira. Em São Paulo, a segunda consumidora de pizzas do mundo, disputando com NY a primazia, consumindo 600 mil pizzas diariamente tendo a metade de todas as pizzarias do pais é a maior certificadora que tudo acaba em pizza e muito bem conforme Milton Peruzzi criou. Tanto é que em 10 de julho foi referendado como Dia da Pizza, data essa instituída em 1985, pelo então secretário de Turismo, Caio Luís de Carvalho.


Updated: 07/04/2019 — 12:13 pm