A história de um Símbolo: Edifício Altino Arantes

E comum andar pelo Centro de São Paulo, e até mesmo por ruas e avenidas de alguns bairros, na companhia de um velho paulistano, nascido em meados de 1947. Não é difícil enxergá-lo. É só dar uma inclinada na cabeça, e lá está ele - o Edifício Altino Arantes, um gigante com 36 andares, uma torre e imponentes 161,22 metros de altura. Mais que um prédio, um símbolo da cidade e de orgulho para todo o Es­tado. O endereço compreendido entre as ruas Boa Vista, João Brícola e a praça Antônio Prado guarda dezenas de  anos de história que se confundem com o brilho do passado e o obscurantismo de um futuro já que pertence ao Santander atual  dono do imóvel, leiloado pelo governo federal, no final dos anos 90. "O Banespa representa um marco na história de São Paulo, pois foi umas das primeiras instituições a financiar o setor agrícola, e sua sede é o maior símbolo deste símbolo.

 

O prédio do Banespa, também conhecido como Edifício do Banco do Estado, é o símbolo maior de uma cidade que aspirou a ser grandiosa. A pedra fundamental do edifício foi colocada em junho de 1939 pelo interventor federal em São Paulo nomeado por Getúlio Vargas, Ademar de Barros. A construção se arrastou por oito anos, interrompida pela Segunda Guerra Mundial, e em 27 de junho de 1947, como governador eleito, o mesmo Ademar inaugurou o edifício em estilio decô tardio que se tornaria o marco inigualável da cidade no pós-guerra.

O "Predião", como dizem os antigos banespianos, tamanha a intimidade, foi planejado no final da década de 30. A economia paulista era só crescimento desde o início do século com a riqueza proporcionada pelo café desenvolvimento acompanhado na mesma velocidade pelo banco. Em 1939, a sede da instituição mostrava-se pequena para tantos negócios. Um prédio na rua João Brícola despertou interesse, mas havia impedimentos legais para a compra junto à Santa Casa de Misericórdia: o edifício fora doado por João Brícola à entidade, que não podia comercializá-lo. A saída foi trocar um imóvel na praça Ramos, outrora  ocupado pela antiga loja do Mappin  pelo pretendido. Outros três casarões vizinhos, na rua Boa Vista, foram comprados, demolidos e, em 27 de junho de 1939, a pedra fundamental foi lançada pelo interventor Adhemar de Barros.

Marcos históricos: o lançamento da pedra fundamental e a ata da assembléia (abaixo) que mudou o nome do banco dos franceses

Plínio Botelho do Amaral assinou o projeto escolhido, que previa, curiosamente, um espigão mais baixo - com alguns andares a menos e sem a torre. Na primeira fase das obras, contudo, foram detectados problemas nas fundações, o que levou o banco a entregar a missão nas mãos da construtora Camargo & Mesquita. Foi, então, que o prédio cresceu, ganhando ares de arranha-céu e linhas inspiradas no Empire State Building, de Nova Iorque, então a construção mais alta do planeta. A inauguração ocorreu exatos oito anos depois do lançamento da pedra fundamental, em 27 de junho de 1947. Novamente, Adhemar de Barros, de volta ao governo - agora pela via eleitoral, estava à frente da cerimônia.

O prédio era o maior do mundo fora dos Estados Unidos e o primeiro a superar seu vizinho Martinelli, que durante 18 anos reinara como o maior arranha-céu de São Paulo. Naqueles anos de pós-guerra, a cidade entrava numa era de enorme entusiasmo e progresso. Foi naquela época que começou a migração nordestina em larga escala; também recebeu uma nova leva de imigração japonesa e europeia, fugida da destruição da guerra. O prédio do Banespa se tornou como que um símbolo daquela nova era progressista.

Luxo e nobreza - Para uso do banco foram destinados, inicialmente, nove andares. Os demais seriam alugados a terceiros, que, anos antes da obra ser concluída, demonstravam interesse em garantir presença no cartão-postal. Com o passar do tempo, a necessidade fez com que a instituição financeira cuidasse de determinar que aquele era um território exclusivamente seu e todo o prédio foi ocupado por instalações do Banespa.

Os melhores materiais foram generosamente utilizados no acabamento da torre: mármore de Carrara, tacos de ipê, jacarandá, e sua fachada revestida com pastilhas de porcelana. Seu saguão central tem um pé-direito de 16 metros de altura; as portas de aço de seus cofres-fortes pesam 16 toneladas cada uma. Tudo à altura dos anseios do maior centro econômico da América Latina.

A imponência da obra era notada já no hall, então reservado ao atendimento dos clientes. O piso e as paredes foram revestidos em granito juparana. O lustre encantou pela imensa quantidade de luzes e pingentes, lembrando os das grandes casas de espetáculos eruditos. No quinto andar, destinado à presidência e às diretorias, as paredes receberam revestimento de jacarandá paulista. O luxo, diga-se de passagem, estava diretamente ligado à grandeza do prédio, com 14 elevadores, 900 degraus e 1.119 janelas. Em 1948, o Edifício-sede (o nome atual só foi dado na década de 60), como era conhecido, foi considerado pela revista francesa Science et Vie (Ciência e Vida) a maior estrutura em concreto armado do mundo, já que o americano  Empire State tem estrutura metálica.

O belo e luxuoso lustre do saguão principal, compõe a grandeza do edifício!

Abaixo o panorama atual com o Martininelli a direita e a sede do banco do Brasil a esquerda.

Na torre, foi instalada, e funcionou por muitos anos, a antena da primeira emissora de televisão do País, a TV Tupi, Canal 3 de São Paulo. Hoje, ela ainda abriga antenas, mas nãos as de emissoras. Polícia Civil, Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e a própria segurança do banco é que utilizam o ponto privilegiado para suas comunicações por rádio.

Depois de ser mantido fechado durante a ditadura militar, por supostas "razões de segurança", o último andar foi reaberto à visitação. Em 2001, 32.745 pessoas passaram pelo mirante, que pode ser conhecido gratuitamente de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h.

O majestoso edifício é um dos maiores orgulhos dos paulistanos e fica no eixo da Avenida São João, constituindo a mais impressionante perspectiva da cidade. Me atrevo a dizer que se trata talvez de uma das perspectivas urbanas mais espetaculares do mundo - uma das poucas comparáveis, a da Park Avenue em Nova York, tem a vantagem de ser compreendida por uma das avenidas mais ricas e elegantes do mundo, em comparação com a nossa esvaziada e mal cuidada São João; mas por outro lado, a perspectiva da Park Avenue foi desonrada pela construção do monstruoso Prédio Pan Am (atual Met Life Building), bem detrás de seu tradicional ponto focal, o belo New York Central Building (atual Helmsley Building).

"Já estive no Empire State, em Nova Iorque e gostei muito, mas o prédio do Banespa é muito mais bonito, assim como a vista daqui de cima", afirma Oscar Matos Brisola, aprovado no concurso do banco realizado no ano em que a sede foi inaugurada.

Do outro lado do centro velho, no Parque D. Pedro, o prédio do Banespa também domina o mais impressionante skyline (silhueta urbana) de São Paulo. É por enquanto o terceiro prédio mais alto da cidade, estando atrás do Edifício Itália e pelo Mirante do Vale (antigo Palácio Zarzur e Kogan), atualmente o maior edifício do Brasil com seus 51 andares. O mirante do Altino Arantes no 36º andar pode ser visitado de segunda a domingo.

Nos anos que se seguiram à II Guerra Mundial, as centenas de milhares de migrantes do Nordeste, da Europa e do Japão que chegavam a São Paulo em busca de uma vida digna eram saudados pela majestosa figura do Edifício do Banco do Estado. Um prédio daquelas dimensões não existia nos seus lugares de origem, e era como que um farol que indicava o novo caminho para as suas vidas, um prenúncio de felicidade e prosperidade. A promessa se realizou para esses imigrantes, que prosperaram e se multiplicaram aos pés do colosso, que continua ainda sendo o ícone da cidade, que hoje já conta com vários edifícios maiores, espalhados por várias regiões da metrópole.

O modelo de Inspiração

O Empire State Building, que serviu de modelo arquitetônico para o Edifício Altino Arantes, é um dos principais pontos turísticos da ilha de Manhattan, em Nova Iorque. Desde a inauguração, em 1931, mais de 85 milhões de pessoas já subiram ao topo daquele que, com 443,2 metros, foi o edifício mais alto do mundo até a conclusão das torres gêmeas do World Trade Center, na mesma Big Apple, em 1973. Os visitantes, aliás, garantiram o sucesso do empreendimento, que, por muito tempo, ficou com vários dos 102 andares vazios.

Projetado pela firma Shreve, Lamb & Harmon Associates, o Empire começou a ser construído em 1930 pela Starrett Brothers and Eken e custou, incluindo o terreno, US$ 40.948.900. A obra, com 6.500 janelas, consumiu 60 mil toneladas de aço e 10 milhões de tijolos. Sempre presente nos cartões-postais, a torre foi erguida para funcionar como um mastro-aeroporto de dirigíveis, mas a idéia fracassou logo na primeira tentativa, devido aos fortes ventos.

Em compensação, ganhou destaque mundial na primeira versão de King Kong, cujo fecho mostra o monstro encurralado no mastro, tentando se defender dos caças. Coberto de glamour, o Empire também foi cenário de uma tragédia real. Em 1945, um bombardeiro B-25 se chocou com o prédio na altura do 79° andar, causando a morte de 14 pessoas. O acidente levou os responsáveis a gastarem US$ 1 milhão nas obras de restauração, mas não arranhou a imagem do lugar. Durante o inverno, próximo ao Natal, Nova Iorque é invadida por uma multidão de turistas de todas as partes do mundo e não há quem fique sem fazer uma visita a um dos principais símbolos nova-iorquinos. As filas no andar térreo do número 350 da Quinta Avenida comprovam o interesse

Abaixo estão as fotos da maquete do complexo atual do Banespa e alguma imagens de angulos diferentes:

Créditos/Agradecimentos além dos já mencionados acima:  http://www.piratininga.org, Alex Gusmão-Revista JÁ No.173 (27/02/2000), e Fotos e imagens pessoais

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