MEMORIAL DO IMIGRANTE, SUA HISTÓRIA E  IMPORTÂNCIA

Instalado em um dos poucos edifícios centenários da cidade de São Paulo, o Memorial do Imigrante ocupa as instalações da antiga Hospedaria de Imigrantes, um imponente complexo de prédios, construído entre 1886 e 1888 na Rua Visconde de Parnaíba, no bairro do Brás, com a finalidade de receber e encaminhar ao trabalho na lavoura, os imigrantes vindos por conta do Governo Provincial de São Paulo - essa hospedaria veio substituir a anterior, que funcionava desde 1882 no Bom Retiro, com capacidade para somente 500 pessoas e havia se tornado insalubre, em virtude das epidemias que assolavam aquele bairro. Com o aparecimento das primeiras indústrias na Capital, o perfil da mão de obra ganharia mais uma faceta, surgindo uma classe operária numerosa, forte e combativa.

A esquerda, a hospedaria em 1910 e a direita a Hospedaria do Brás

Esse processo, conhecido como imigração massiva, já ocorria desde a metade do século XIX, portanto, não foi iniciado com a abolição da escravidão, como muitos historiadores costumam propagar erroneamente. O fim da escravidão no Brasil, na verdade, colocou em xeque mate o sistema de trabalho nas fazendas, tornando irreversível a necessidade de mão de obra pesada para as emergentes plantações de café. De 1882 a 1978, passaram pela Hospedaria de Imigrantes mais de 60 nacionalidades, com o número de pessoas estimado em aproximadamente 2,5 milhões, todas devidamente registradas em livros e listagens. O museu possui, praticamente, todos os registros das pessoas que passaram pela antiga hospedaria. São listas de bordo dos navios, livros de registros de imigrantes patrocinados, cartas de chamada, processos de núcleos de colônias, além de documentos pessoais doados por alguns imigrantes e cerca de 8 mil imagens fotográficas, entre negativos e originais. Este acervo, de valor incalculável para a história e memória do Estado de São Paulo, está em processo de elaboração final, parte já informatizada, onde a busca por informações é feita em questão de segundos. Apesar da consulta de muitos pedidos ser feita manualmente por um grupo de especialistas, foram emitidas até 1998, cerca de três mil certidões.

Chegada de imigrantes pela Ferrovia

Imigrantes Europeus em 1890

CENTENÁRIO INAUGURAL

A importância da Hospedaria de Imigrantes no desenvolvimento e progresso de São Paulo é incontestável, embora pouco conhecida e estudada. Desta forma, no aniversário dos 110 anos da sua inauguração oficial (1888-1998), o edifício continua em pé, fascinando os que o vêm pela primeira vez. Nada mais justo para celebrar as quase 3 milhões de pessoas que por ali passaram. As obras da Hospedaria "do Brás", como também eram conhecidas, foram iniciadas em 1886, mas a partir de 1887 já começava a funcionar e pôde substituir a antiga, localizada no Bom Retiro, um bairro assolado por epidemias. O espaço no "subúrbio do Brás" foi escolhido por ser plano, aberto e ficar próximo ao entroncamento de duas ferrovias (São Paulo Railway e E. F. Central do Brasil). Devido às dimensões do terreno (30 mil metros quadrados) e ao tamanho do prédio (cerca de 10 mil metros quadrados, com dois pavimentos), podemos considerar a Hospedaria como um dos maiores edifícios públicos do final do sécu­lo XIX, na cidade de São Paulo.

Imigrantes hospedados, aguardo recolocação de trabalho

Comemorações de todas as nacionalidades que passaram pela hospedaria

Só por estas razões justifica-se a manutenção deste espaço, mas há outras, como a memória, ainda viva e atuante, dos que ali trabalharam ou ficaram hospedados, além dos jardins, usados pela população das proximidades, e da valorização do entorno. Vários imigrantes e seus descendentes, organizados em clubes, comunidades ou mesmo individualmente, elegeram o prédio do Memorial como ponto de referência e encontro, fortalecendo os laços entre os acontecimentos do passado e o uso atual. Contando ainda com móveis e objetos daquela época, preservados do descaso e da deteriorização, é possível mostrar às pessoas o valor da antiga Hospedaria, resgatando, talvez, o aspecto mais importante da imigração para o nosso país.

QUEM GUARDA NÃO ESQUECE

Um trabalho inusitado está contribuindo para a construção de uma memória mais demográfica em São Paulo. O setor de História Oral do Memorial do Imigrante vem colhendo depoimentos de imigrantes de mais de 60 nacionalidades, que aqui chegaram em busca de condições dignas de vida, de riquezas e da concretização de seus sonhos. Para resgatar essa  saga, sem esconder dificuldades e conflitos, dando voz à diversidade de versões, e fugindo da história oficial, homogênea e redutora, o setor escolheu entrevistar imigrantes anônimos e idosos. Esta  talvez seja a última oportunidade para pessoas  de mais de oitenta anos contarem suas experiências de mudanças de país. Dessas narrativas emerge um cotidiano rico em alegrias, aventuras, fantasias, sofrimento e resignação. Com esse material  gravado  em  vídeo, o Memorial do Imigrante está produzindo um acervo aberto ao público constituindo de versões transcritas e orais, e de cópias em vídeo dos depoimentos. Além disso, foram também implantadas quatro estações multimídia, com imagens em movimento de trechos de entrevistas, resumos biográficos, fotos e fichas catalográficas.

Composto de aproximada­mente oito mil imagens, entre negativos e originais, o Setor de Iconografia do Memorial do Imigrante vem subsidiando estudantes, historiadores, publicitários, cineastas, pesquisadores, editores e o público em geral com material do seu acervo. Com imagens que abrangem as condições de vida nos países de origem, o embarque/desembarque, a estada na própria Hospedaria de Imigrantes, a vida nos cafezais, a fix­ção nos núcleos coloniais e colônias, o trabalho na indústria paulista do início do século, o lazer e a organização social e cultural dos imigrantes, este acervo constitui um dos mais completos e importantes centros de referência fotográfica sobre a imigração existentes no Brasil.

FOTOS ATUAIS DO MEMORIAL DO IMIGRANTE

Créditos/Agradecimentos: Memorial do Imigrante, Revista GoWhere?/São Paulo


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