A Cratera de Parelheiros (Cratera de Colonia)

Num vale formado há milhares de anos com a queda de um meteoro em Parelheiros, convivem cientistas e famílias em situação irregular, no entorno de um Centro de Detenção Provisória


Um meteoro caiu em São Paulo. Nada de pânico, leitor: foi há milhares ou milhões de anos. Não se sabe ao certo. Sabe-se tampouco se foi um meteoro ou um cometa. Para os paulistanos, a dúvida não é o que importa. O relevante é que o fenômeno abriu uma cratera de 3,6 quilômetros de diâmetro que, não fosse o desconhecimento da população e o desprezo do poder público, já poderia ter se transformado em importante fonte de pesquisa,  ecoturismo e, principalmente, renda.

A cratera fica na região de Parelheiros, mais precisamente ao lado de Colônia, uma vila de alemães. Quem vai conhecê-la enfrenta uma hora e meia de viagem a partir do Centro. Mas, se a expectativa for encontrar uma cratera igual às dos filmes de ficção científica, a decepção é certa. No local, ergue-se o Vargem Grande, bairro formado a partir de uma ocupação irregular e com uma população em torno de 40 mil pessoas.

 

A Cratera de Colônia localiza-se integralmente dentro dos limites do Município de São Paulo, na região sul, a 35 km da Praça da Sé (centro da cidade), na recém criada Área de Proteção Ambiental (APA) Capivari – Monos.

A cratera possui formato praticamente circular, bem destacado no relevo da região e apresenta diâmetro de 3.640 metros. As elevações que compõem a borda circundante em forma de anel se elevam a aproximadamente 125 metros acima da planície central. Esta, situada a cerca de 755 metros de altitude, mostra características de pântano, uma vez que a drenagem, em tempos passados, era para o interior da mesma, com acúmulo de água e matéria orgânica.

 

 

Mesmo dos pontos mais altos, o que se vê são contornos do bairro onde foi construído, no governo de Orestes Quércia, um CDP (Centro de Detenção Provisória). Um "sacrilégio completo", define Victor Velásquez, geólogo e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.

Com um grupo de alunos e professores, ele chegou ao local em 2001 e iniciou as pesquisas em 2005. O trabalho hoje também envolve conscientizar a população sobre a importância de preservar o lugar.

Os estudos geofísicos iniciais em Colônia foram realizados por R. Kollert, A. Björnberg e A. Davino em 1961, que consideraram a cratera como testemunho de colisão (cratera de impacto). A partir desse trabalho pioneiro, outros levantamentos constataram a presença de um preenchimento sedimentar com mais de 400 m de espessura, um pouco ao sul do centro da cratera, onde localiza-se o ponto de maior profundidade. O principal interesse geológico é que esses sedimentos guardam o registro das transformações ambientais ocorridas desde a sua formação. Por exemplo, os geólogos acreditam que há 18 mil anos a cratera já foi um lago.

Com relação à provável época de origem, os dados não são conclusivos. Possui uma idade entre 5,2 e 36,4 milhões de anos o que situaria sua formação entre os períodos Pleistoceno (do Quaternário) e Oligoceno (do Terciário). Os levantamentos geomorfológicos mais aprofundados e datações de 14C apontam para uma idade entre o Pleistoceno (Quaternário) e o Mioceno (Terciário), ou entre 3 e 25 milhões de anos. Há, portanto, a necessidade de novos estudos.

 

Rio limpo, índios e espécies em extinção estão na área
A Cratera de Colônia é tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) e está localizada dentro da Área de Preservação Ambiental (APA) Capivari-Monos, referência no nome aos dois rios localizados no extremo sul de São Paulo.

Criada em 2001, pela Lei Municipal 13.136, a APA Capivari-Monos compreende 251 km², dos quais fazem parte o Parque Estadual da Serra do Mar, duas aldeias indígenas guaranis (Krukutu e Tenondé Porã) e parte das bacias  hidrográficas das represas Guarapiranga e Billings, entre outros. Na região, há muitas espécies da flora e da fauna em extinção, e um rio limpo, o Capivari.

O fato de o governo ter criado uma região de proteção ambiental impede, por exemplo, a exploração turística das inúmeras trilhas locais.

Ocupação irregular começou 13 anos
O bairro Vargem Grande resultou de um loteamento irregular. Em 1987, a União das Favelas do Grajaú (Unifag) rateou entre três mil pessoas  a chácara comprada do alemão João Rinsberg,  dentro da qual ficava a cratera.

 

São conhecidas cerca de 160 estruturas do tipo no mundo, entre crateras de impacto comprovadas, prováveis e ainda em processo inicial de pesquisa. A maior parte situa-se no hemisfério norte do planeta, uma vez que lá há mais extensões de terras do que de águas, e os aspectos geológicos dos continentes são muito mais conhecidos que os do hemisfério sul. Lá, também, há uma predominância delas nos climas temperados e frios porque o intemperismo e a erosão atuam em menor taxa.

Em nosso hemisfério as crateras de um modo geral são mais escassas, principalmente na região intertropical. O maior número delas situa-se no sul da África, na Austrália e no interior da Argentina, áreas onde a predominante corrente atmosférica descendente inibe a formação de nuvens e a conseqüente precipitação de chuvas, favorecendo a preservação. Da mesma forma, acreditamos que a Antártida deve ser outro provável sítio de crateras preservadas. Assim, crateras preenchidas em ambientes de clima úmido são raras, um importante aspecto da Cratera de Colônia.

Geologicamente falando, a cratera situa-se em uma área de terreno cristalino bastante antigo, datado do Proterozóico (última metade do Pré-Cambriano), onde encontramos rochas como gnaisses, migmatitos, dioritos, micaxistos, quartzitos, granitos, granodioritos, etc. Parte delas está coberta por sedimentos da Bacia de São Paulo, que se encontram atualmente erodidos, mas com alguns testemunhos nas bordas sul e sudeste. O relevo regional caracteriza-se pela presença de morros suavizados e espigões relativamente baixos, com drenagem regional em direção ao Rio Tietê. Na borda leste da cratera há uma saída em direção à Represa Billings. A proximidade em relação à Serra do Mar permitiu que boa parte do entorno apresente cobertura de floresta úmida (mata atlântica) com alto índice pluviométrico anual.


Os trabalhos mais recentes na cratera datam do início da década de 1990, todos de natureza geofísica. Em 1990, W. C. B. Masero e S. L. Fontes, por meio de um levantamento magnético, obtiveram um perfil que mostra claramente o formato em calota do fundo da cratera. U. S. Motta e J. M. Flexor, em 1991, por meio de um levantamento gravimétrico, demonstraram a assimetria do fundo da cratera, muito semelhante à da famosa Cratera do Arizona (EUA). Em 1992, F. A. P. S. Neves e M. Assumpção, por processos sísmicos, constataram a forma em calota do fundo e atribuíram uma idade máxima oligocênica para a cratera.

Em síntese, os dados atuais convergem para um impacto como origem para a cratera, mas os pesquisadores somente aceitarão isto como um fato, quando forem localizados restos do corpo celeste (fragmentos meteoríticos) ou encontrarem rochas que exibam claramente estruturas de metamorfismo de impacto.


 

O que é Parelheiros:

Parelheiros é um distrito rural localizado no extremo sul de São Paulo. É o segundo maior distrito em extensão territorial, embora seja muito pouco povoado. Tem a maior parte da área coberta por reservas ambientais de Mata Atlântica; nele se localiza a APA Capivari-Monos.

 

Em Parelheiros também estão duas aldeias indígenas de um subgrupo guarani com cerca de mil habitantes. A região também recepcionou a primeira imigração alemã no estado no início dos século XIX. Os poucos habitantes, além dos índios, têm o poder aquisitivo mais baixo da cidade.Dista-se de 15 a 25 quilômetros de Itanhaém e São Vicente no litoral, e uma distância de 50 a 60 quilômetros do centro de São Paulo.

 

São 353 km², representando 24% do município, com ocupação urbana de 2.5% e dispersa 7.7%. Com a totalidade de seu território em área de proteção aos mananciais, a região compreende remanescentes importantes de Mata Atlântica e as áreas mais preservadas do Município. Inclui parte das bacias hidrográficas das Represas Guarapiranga e Billings, que são responsáveis pelo abastecimento de 30% da população da Região Metropolitana de São Paulo. É cortado por ferrovia de escoamento da produção agrícola ao porto de Santos e um ramal suburbano desativado.

 

A Cratera da Colônia com 3,5 km² é marco geológico produzida por meteorito há milhões de anos. Parte dela é ocupada por 25 mil pessoas em loteamentos irregulares, outra de um presídio Estadual (cerca de 1500 presos); e o restante (cerca de 50%) preservada como área agrícola tradicional. A área é tombada pelo Condephaat (Res. SC 60 de 20.08.2003). Originariamente foi habitada por índios Tupis e no século XX um subgrupo guarani ali se estabeleceu, tendo hoje tem cerca de 600 pessoas em duas áreas, a Aldeia Krukutu e Morro da Saudade.

 

Apesar das restrições impostas pela legislação ambiental, a região apresenta urbanização intensa e desordenada, com parte da população residindo de forma precária e sérios impactos sobre os processos  naturais de produção de água, devido à impermeabilização do solo, ao desmatamento, ao despejo de esgotos e ao assoreamento dos corpos d'água.

Parelheiros – mais informações em  http://pt.wikipedia.org/wiki/Parelheiros

 


Créditos e Agradecimentos: Deise Machado de Oliveira, Paulo Gomes Varella


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