Os ingleses prepararam uma grande festa.
O convidado de honra era o presidente da Província,
João da Silva Carrão, o Conselheiro Carrão, que embarcou,
seguido das demais autoridades e personalidades, na estação
do Brás, rumo ao Jardim da Luz, onde haveria um banquete. O trem,
puxado por duas locomotivas, partiu e tudo era festa até a ponte
do rio Tamanduateí, quando se ouviu um estalo. Um dormente havia
cedido, provocando o rompimento da corrente que prendia uma locomotiva à
outra.
A primeira locomotiva, onde estava o conselheiro Carrão, não
teve problemas, mas a segunda saltou dos trilhos e despencou pelo aterro,
ferindo muitos integrantes da comitiva presidencial. O maquinista morreu
e entre os feridos estavam Joaquim Justo da Silva, Barão de Itapetininga,
João Ribeiro da Silva, coronel Joaquim Floriano de Toledo, e os conselheiros
Pires da Mota (que também foi presidente da Província, de
1848 a l85l e de 1862 a 1864) e Ramalho, que foi intendente da Capital há
um século. O escritor Barros Ferreira, ao contar o episódio,
informa que o conselheiro Ramalho era um troca-letras, por isso, ao descobrir
que estava vivo, disse: "Milagrei escaposamente", ao querer
explicar que escapara milagrosamente.
O banquete no Jardim da Luz obviamente foi cancelado e o governo imperial,
que chamara os ingleses para implantar a ferrovia, por intermédio
do Visconde de Mauá, mandou abrir sindicância para apurar as
responsabilidades. Vários engenheiros foram punidos. Concluiu-se
que eles tinham cometido um grave erro, pois não haviam testado a
ponte.
(Parte integrante do artigo "Queima de Arquivo" de Odair Rodrigues Alves na Revista JÁ nº 37).