Desastre inaugural



A São Paulo Railway Company só iniciou suas atividades em 1865, nove anos depois de ter obtido o sinal verde do governo imperial. O começo, entretanto, não foi dos mais promissores. Logo na viagem inaugural da ferrovia, ocorreu o primeiro desastre de trem na história de São Paulo.

Os ingleses prepararam uma grande festa.

O convidado de honra era o presidente da Província, João da Silva Carrão, o Conselheiro Carrão, que embarcou, seguido das demais autoridades e personalidades, na estação do Brás, rumo ao Jardim da Luz, onde haveria um banquete. O trem, puxado por duas locomotivas, partiu e tudo era festa até a ponte do rio Tamanduateí, quando se ouviu um estalo. Um dormente havia cedido, provocando o rompimento da corrente que prendia uma locomotiva à outra.
A primeira locomotiva, onde estava o conselheiro Carrão, não teve problemas, mas a segunda saltou dos trilhos e despencou pelo aterro, ferindo muitos integrantes da comitiva presidencial. O maquinista morreu e entre os feridos estavam Joaquim Justo da Silva, Barão de Itapetininga, João Ribeiro da Silva, coronel Joaquim Floriano de Toledo, e os conselheiros Pires da Mota (que também foi presidente da Província, de 1848 a l85l e de 1862 a 1864) e Ramalho, que foi intendente da Capital há um século. O escritor Barros Ferreira, ao contar o episódio, informa que o conselheiro Ramalho era um troca-letras, por isso, ao descobrir que estava vivo, disse: "Milagrei escaposamente", ao querer explicar que escapara milagrosamente.
O banquete no Jardim da Luz obviamente foi cancelado e o governo imperial, que chamara os ingleses para implantar a ferrovia, por intermédio do Visconde de Mauá, mandou abrir sindicância para apurar as responsabilidades. Vários engenheiros foram punidos. Concluiu-se que eles tinham cometido um grave erro, pois não haviam testado a ponte.


(Parte integrante do artigo "Queima de Arquivo" de Odair Rodrigues Alves na Revista JÁ nº 37).


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