Trem no jardim


Chamado inicialmente de Horto Botânico, o Jardim da Luz foi criado por aviso régio em 19 de novembro de 1798. Sua área compreendia uma faixa de terreno que se estendia da travessa da Alegria, hoje rua Mauá, até o local onde está atualmente a Estação da Luz. Foi esse o patrimônio público doado, na segunda metade do século passado, à São Paulo Railway Company, que teve direito ainda a desapropriações de imóveis nas imediações.
Na área presenteada pelo Governo, os ingleses ergueram, no início da década de 1860, sua primeira estação ferroviária na região. Trinta anos depois, entretanto, o empreendimento estava obsoleto, pois São Paulo começou a crescer de forma acentuada a partir de 1870, em decorrência da produção cada vez maior do café, que atraiu uma grande leva de imigrantes.
A nova estação começou a ser construída em 1895 e sua inauguração ocorreu em 1º de março de 1901.

0 empreendimento, bancado pela SPR, consumiu cerca de 150 mil libras esterlinas, ou US$ 4,5 milhões, que foram gastos, em boa parte com os materiais, quase todos importados da Inglaterra, caso do pinho de riga e das folhas de flandres. O prédio, em estilo neoclássico vitoriano, representou um marco arquitetônico na história da cidade.
O ponto alto da história da Estação da Luz aconteceu em 1922, quando o rei Alberto da Bélgica e sua mulher; a rainha Elizabeth, lá desembarcaram, depois de uma viagem do Rio de Janeiro a São Paulo, em trem especial.

Na segunda metade do século, entretanto, teve início a decadência do sistema ferroviário nacional, e a velha estação não escapou do processo.
Em 1973, uma inspeção concluiu que a estrutura metálica estava oxidada, ameaçando cair, mas as obras só foram iniciadas em 1976. A estação, cujo projeto arquitetônico já fora adulterado após a reforma provocada pelo incêndio de 1943, seria ainda mais deformada. Materiais nobres, como as chapas de folha de flandres e os vitrais coloridos, cederiam lugar a placas de PVC e de plástico colorido. De quebra, toscas vigas de alunúnio seriam colocadas lado a lado dos graciosos arcos de ferro trazidos da Inglaterra. Esse estupro arquitetônico foi impedido pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turistico do Estado de São Paulo (Condephaat), que tombou a Estação da Luz e garantiu, assim, a preservação do projeto original, da firma Fox & Mayo, da Inglaterra.

A partir daí, o Condephaat e a RFFSA elaboraram um novo projeto de reforma, que saltou dos Cr$ 5 rnilhões previstos anteriormente para Cr$ 25 milhões, divididos meio a meio. O trabalho foi concluído em 1980.
Longe de seus dias de glória, a Estação da Luz se transformou em um grande terminal de trens de subúrbio. Deixou de pertencer à RFFSA em 1984, que ficou com as linhas de longo curso, passando a ser comandada pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos, CBTU, criada pelo Governo Federal para cuidar desse tipo de transporte. Há poucos anos, foi estadualizada, com a criação da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos - CPTM.


(Parte integrante do artigo "Queima de Arquivo" de Odair Rodrigues Alves na Revista JÁ nº 37).


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