M.M.D.C.

No trágico 23 de julho de 1932 completavam-se, exatamente, dois meses que correra sangue em São Paulo, pela primeira vez, no início da luta pela Constituinte. Em 23 de maio, os estudantes Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo foram mortos por "tenentes" - militares que haviam aderido a Getúlio Vargas na Revolução de 30, num episódio que se transformou no estopim para a deflagração da Revolução Constitucionalista. As iniciais dos estudantes formaram a sigla M.M.D.C., símbolo da revolta paulista que se iniciaria no dia 9 de julho.

O movimento foi uma tentativa das elites do Estado, especialmente dos grandes plantadores de café, de retornar ao status quo existente na República Velha, que durou da Proclamação da República ao governo de Washington Luís. Naquele período, vigorou a política do "Café com Leite", um trato firmado por paulistas e mineiros para se alternarem no poder. Em 1930, Getúlio Vargas se candidatou à Presidência com o objetivo de romper esse esquema e modernizar o País. Foi derrotado em uma eleição fraudulenta, pegou em armas e derrubou Washington Luis.

As elites paulistas não digeriram o episódio, que ficou conhecido como a Revolução de 30, até porque um de seus representantes, Júlio Prestes, deveria suceder Washington Luís. Os barões do café e demais setores do empresariado do Estado resolveram, então, empunhar uma bandeira simpática, a da Constituinte, para obter o apoio popular e, assim, desafiar Getúlio. A estratégia deu certo. Em 22 de maio de 1932, foi realizada uma grande passeata na Capital em protesto contra a falta de autonomia dos interventores, que faziam as vezes de governadores. O então ocupante do cargo, Pedro de Toledo, a exemplo de seu antecessor, Laudo de Camargo, não tinha o direito de escolher seus auxiliares, ficando subordinado ao governo revolucionário chefiado por Getúlio Vargas. Na praça do Patriarca, a Liga Paulista Pré-Constituinte e a frente única formada pelo Partido Republicano Paulista (PRP) e o Partido Democrático - lançaram um manifesto contra o Governo Federal e marcaram uma grande concentração para o dia seguinte, que depois seguiria rumo aos quartéis e ao palácio do Governo. Ao mesmo tempo, eclodia uma crise entre os próprios revolucionários, provocando o rompimento entre o general Góis Monteiro, um dos assessores mais próximos de Getúlio, e Miguel Costa, que depois se tornou um dos líderes da célebre "Coluna Prestes". Este, que comandava a Força Pública, solicitou sua exoneração e reforma militar.

Pedro de Toledo aproveitou o racha dos tenentes e o apoio popular para, na segunda-feira, recompor seu secretariado, empossado no mesmo dia. Nomeou o tenente-coronel Marcondes Salgado para ocupar o lugar de Miguel Costa no comando da Força Pública. Naquele mesmo dia, Toledo foi aclamado governador pela população.

A noite, estudantes e populares tentaram assaltar a sede do Partido Popular Paulista (PPP), fundado por Miguel Costa, situada na esquina da praça da República com a rua Barão de Itapetininga.Fortemente armados, os "tenentes" abriram fogo com revólveres, fuzis e metralhadoras. No tiroteio, que se prolongou até 4h15 do dia 24 de-maio, morreram os estudantes Euclides Bueno Miragaia, Mário Martins e Miranda, Dráusio Marcondes Salgado, de apenas 14 anos, e Antônio Camargo de Andrade.

No dia seguinte, 24 de maio, estudantes que conspiravam contra o Governo Federal reuniram-se em salas secretas do Restaurante Posillipo e decidiram fundar a "Guarda Paulista", associação que, no decorrer da reunião, virou simplesmente M.M.D.C., em homenagem aos estudantes mortos. Os ativistas do M.M.D.C. logo começaram a preparar pelotões guerrilheiros, ativados por meio de senhas secretas.


(Parte integrante do artigo "Um sábado trágico"  de Odair Rodrigues Alves publicado na Revista JÁ nº 26 de 04 de Maio de 1997, gentilmente cedida para esta Home Page, pelo seu Editor Dario Palhares).

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