O Casarão da Vila Fortunata

Villa Fortunata

Data da construção:

1903

Estilo arquitetônico:

estilo eclético

Cidade:

São Paulo, SP

Tombamento:

1992

Conpresp

A Villa Fortunata foi um imóvel na Avenida Paulista, nº 1853 esquina com a Alameda Ministro Rocha Azevedo, tendo sido a moradia do intelectual René Thiollier por 55 anos. O seu terreno, uma das poucas áreas verdes da região, bem como o casarão vizinho, Residência Joaquim Franco de Melo, foram tombados pelo Condephaat.

 René Thiollier

História

A Villa Fortunata era uma das imponentes casas da avenida, construída em 1903, por Alexandre Honoré Marie Thiollier, proprietário da primeira livraria de São Paulo, a Casa Garroux. De início era utilizada como casa de campo, pois a família morava no Centro, na rua XV de Novembro n° 60, onde hoje encontra-se o Restaurante Bovinos. Com problemas de saúde, o proprietário Alexandre Honoré Marie Thiollier embarcou para a Europa, para tratamento. Alugou a casa para um casal, cuja mulher esperava pelo seu quarto filho, que na Villa Fortunata nasceu em 1909. Seu nome Roberto Burle Marx, o renomado paisagista. Em 1912, o pai de Roberto Burle Marx que possuia um curtume em São Paulo, faliu e mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Alexandre Honoré Marie Thiollier faleceu em Paris em 1913, e segundo seu desejo, foi trazido para ser sepultado no Cemitério da Consolação. Após 1913, seu filho René Thiollier passou a residir no casarão, no qual promovia jantares e saraus, que eram frequentados por artistas e intelectuais - Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Guilherme de Almeida por exemplo – que viriam a organizar a Semana de Arte Moderna de 1922.

Arquitetura

Sua arquitetura refletia a influência européia, construída no estilo eclético em voga e era uma das mais imponentes da região no início do século XX. Em 1972, o casarão foi demolido, como muitos outros palacetes originais da Avenida Paulista. O terreno pertenceu, ainda, ao Banerj (Banco do Estado do Rio de Janeiro) - abrigando um estacionamento - e, em 1992, foi tombado pelo Conpresp, devido à representativa área verde.

A Prefeitura de São Paulo pretende construir no local o "Parque Prefeito Mario Covas", criado pelo Decreto nº DECRETO Nº 49.418, de 18 de abril de 2008, do prefeito Gilberto Kassab. Decisão esta que recebeu críticas da Família Thiollier e outros paulistanos.

Tombamento

A mata remanescente da Vila Fortunata e a Residência Joaquim Franco de Melo foram tombadas em 1992.

Endereço

Avenida Paulista, 1853 - Cerqueira César

Artista plástica de 88 anos compra com a PMSP

Nazareth Thiollier, Artista Plástica de 88 anos, compra briga com a Prefeitura de São Paulo

A artista plástica Nazareth Thiollier, 88 anos, é uma dessas senhoras cheia de fibra que ainda tem grandes objetivos. Filha de René Thiollier, um dos mais importantes mecenas da história cultural do país, um dos financiadores e responsáveis pela Semana da Arte Moderna de 1922, Nazareth ainda acorda todos os dias, pontualmente às 6hs para trabalhar. Como convive com artistas desde a infância e por sua atividade, seu apartamento (localizado Alto de Pinheiros) é um verdadeiro museu: possui  obras originais de Tarsila do Amaral, móveis de Paris construídos no século XX e mais de 30 esculturas próprias.

Nazareth está engajada em uma das mais importantes obras da sua vida: transformar o novo parque municipal da cidade, localizado na Av. Paulista, em um marco histórico, homenageando com o nome do pai René Thiollier. O local, que era chamado de Villa Fortunata, foi onde Nazareth nasceu e presenciou o encontro dos principais artistas do país. Através de um decreto do prefeito Gilberto Kassab, o Parque recebeu o nome do ex-governador Mário Covas, ignorando a importância de René Thiollier para a capital paulista.

Desde então, a artista plástica criou um manifesto para recuperar a memória do pai pela importância dele para a  cultura paulista e brasileira.

Quer saber quem é Maria Nazareth de Carvalho Thiollier? Então veja bem, em fevereiro de 2008 completou 88 anos bem vividos. Um exemplo a ser seguido. Fala da sua idade com maior orgulho. Dedica-se à escultura figurativa desde os anos 80. E gosta muito do que faz. Sua penúltima exposição individual em 2003 abordou a releitura das mulheres pintadas por Toulouse-Lautrec. Esculturas fundidas em bronze que refletem a sensibilidade dessa força de mulher que tem como frase diária: “Não me entrego”.

Antes da escultura, Nazareth Thiollier, é assim que assina suas obras, pintou óleo sobre tela durante muitos anos. Basicamente décadas de 50, 60 e 70. Seu amor às artes vem desde criança. No colégio já ensaiava seus primeiros traços. Sempre desenhou muito. O segredo para chegar a essa idade de forma tão ativa e brilhante, está na receita de nunca deixar a mente ociosa. Até hoje Nazareth administra todos seus negócios junto com a eficiente secretária Kazuco Sato, com a prestativa advogada Vera Barreto Fleury e com o amigo e contador Aristeu Santos. Todos fazem parte da rotina semanal de Nazareth a mais de 30 anos.

 

Nazareth há dois anos trabalha num livro documentário sobre São Paulo. Documentação deixada por seu pai René Thiollier, falecido em 1968 com 86 anos, nascido, portanto no século 19, mais precisamente em 1882 e faz parte de uma saudosa aristocracia.

E para entender melhor, olha quem foi o pai da D. Nazareth, homem que se busca homenagear com o nome no parque citado na matéria.

Filho de Francês legítimo, René Thiollier, paulista, deu uma contribuição enorme a essa terra em que nasceu e que amou tanto. São Paulo. Como Escritor fez parte da Academia Paulista de Letras e foi secretário perpétuo. Fundador do TBC – Teatro Brasileiro de Comédia e combatente na revolução de 1932. René Thiollier teve um papel fundamental para que a Semana de Arte moderna em 1922 acontecesse. Como empresário da “Semana” foi ele que alugou o teatro Municipal. Até publicou um livro na década de 50 falando sobre a “Semana de 22”.

 

Nazareth Thiollier pretende lançar esse livro ainda esse ano. Nos diversos capítulos abordara a também a Av. Paulista que foi berço de seu nascimento. A Villa Fortunata foi à morada de seu pai por 55 anos. Um casarão da São Paulo antiga que foi o palco de muitas reuniões importantes, muitos saraus e muitos encontros literários, com personagens da historia brasileira que vale relembrar.

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Você pode até estar pensando: e o que eu tenho a ver com uma senhora da aristocracia paulista ou mesmo com seu pai? Talvez por considerar a aristocracia um problema (como o poeta, talvez você pense que “a burguesia fede”), talvez por achar que o problema não te atinge afinal de contas é só mais um nome em uma cidade dado ou tirado por um político qualquer. Talvez ainda você nem soubesse qual o nome do parque na verdade, isso é bem verdade, ou talvez ainda nem saiba que parque é esse.

Mas aqui temos duas situações que merecem reflexão profunda e cuidadosa. Primeiramente uma senhora de 88 anos que compra brigas em que acredita, não somente se mantendo viva, mas se mantendo ativa e altiva. D. Nazareth é daqueles exemplos que vez por outra aparecem em telejornais e muitos consideram reportagens piegas com suas músicas melosas e seus textos pingando sentimentalismo. Mas isso acontece porque realmente não pensamos muito na nossa temporalidade e no pouco tempo que temos por aqui. Pensamos menos ainda no preço que pagamos por envelhecer (e muita gente envelhece aos vinte anos de idade. Coisa de cabeça!) e nas opções que fazemos ao longo da vida. Se de nada me servir ler essa matéria, servirá para tentar planejar o velhinho que quero ser com 129 anos de idade (fazendo planos para o meu aniversário de 150 anos!)

Mas existe outra coisa nessa matéria que chamou minha atenção: a falta de respeito dos políticos nacionais com a história e com os valores de uma comunidade. A festa que se faz com nominações em logradouros públicos em nossas cidades infelizmente nunca se vale para homenagear a história ou personagens que mesmo merecem. Não desmerecendo ou diminuindo Mário Covas, mas um povo sem história é um povo com poucos valores, ou nenhum valor. Então vem o bonitão, que até alguns atrás era um ilustre nada, e quer deixar sua marca na história alterando fatos e dados que já existiam muito antes dele emporcalhar a rua com seus outdoors e santinhos. Sabe por quê isso acontece? Porque somos inertes, moles, preguiçosos. Elegemos essa súcia e nunca mais nos preocupamos com nenhuma das inúmeras bandalheiras que eles cometem nesse país dia após dia, mês após mês, rindo de nossas caras e posando de importantes e beneméritos.


Há muito mais importância neste casarão pois nele como dito Burle Marx nasceu, na grande casa Art Noveau  na esquina da Avenida Paulista com a Rua Ministro Rocha Azevedo. O terreno sobrevivente – há pouco tempo reaberto como parque público – assume inquestionável importância ao constatarmos que a área verde remanescente é parte da Mata Atlântica, que originalmente cobria toda a região. Talvez desse contato tão próximo tenha surgido o fascínio de Burle Marx pela floração tropical, presente nos projetos paisagísticos que o artista defendia de maneira intransigente, quase obstinada, sem, no entanto, excessos nacionalistas e limitadores.

Roberto Burle Marx aos 10 anos

 

Desenhista, pintor, escultor, musicista, cenógrafo, figurinista, criador de projetos de jóias, tapetes, jardins. Nasceu no dia 04 de agosto de 1909, na ampla e confortável casa na Avenida Paulista, projetada por René Thiollier, conhecida como " Vila Fortunata", na cidade de São Paulo.
Era o quarto filho de Cecília Burle (de origem pernambucana e portuguesa) e de Wilhelm Marx, judeu-alemão, nascido em Stuttgart e criado em Trier (cidade natal de Karl Marx, primo de seu avô).
A mãe, exímia pianista e cantora, despertou nos filhos o amor pela música e pelas plantas. Roberto a acompanhava, desde muito pequeno, nos cuidados diários com as rosas, begônias, antúrios, gladíolos, tinhorões e muitas outras espécies que plantava no seu jardim. Com a ama Ana Piascek aprendeu a preparar os canteiros e a observar a magia da germinação das sementes no jardim e na horta domiciliar.
O pai era um homem culto, amante da música clássica e da literatura européia, preocupado com a educação dos filhos, aos quais ensinou alemão, embora se dedicasse aos negócios, como comerciante de couros, num curtume que mantinha em São Paulo.

Algumas imagens da vegetação local certamente admirada por Burle Marx:


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