Memorial SPAC Charles Miller

Um precioso tesouro se encontra escondido no centro de São Paulo, no bairro da Consolação, e é um marco histórico para o nascimento do futebol e outros esportes no Brasil e particularmente em São Paulo. Trata-se do Centro de Memória SPAC Charles Miller e o próprio clube, onde Charles Miller foi o sócio mais ilustre. Nele você será envolvido no belo resgate da vida de Charles Miller e do próprio São Paulo Athletic Club, que damos uma amostra a seguir:

Esta é a entrada do Memorial

Esta é a entrada do Memorial

O São Paulo Athletic Club, fundado por britânicos, alguns engenheiros da recém construída São Paulo Railway e outros comerciários da cidade que no mesmo dia do decreto e promulgação da Lei Áurea (13 de Maio 1888), na mesa de um bar na rua São Bento em São Paulo tratavam da ideia de fundar um clube social-esportivo, onde poderiam disputar seu jogo predileto, o críquete, bem como compartilhar horas de lazer com as suas famílias.

Entre eles, William Snape (o Presidente-Fundador) , William Speers (Superintendente da São Paulo Railway Co.), William Fox Rule, Peter Miller, Percy Lupton e Charles Walker fizeram nascer o SPAC, considerado o clube mais antigo da cidade de São Paulo.

O Clube, fundado por ingleses radicados em São Paulo, mantêm até hoje as tradições esportivas britânicas, e não vivia apenas de cricket e futebol e foi responsável pela introdução no país de outros esportes desta tradição, como o rúgbi, hóquei sobre grama, squash e badminton. Foi também foi um dos primeiros lugares onde se jogou tênis. Sócios do SPAC, entre eles nosso famoso e importante Charles Miller, também foram conselheiros em 1924 da recém fundada Federação Paulista de Tênis. Importante destacar também que o futebolista, Charles Miller foi também ‘cricketer’ famoso, consagrado tenista e temível ‘rugby player’.

Mas nos primeiros anos do SPAC, enquanto as atividades de críquete fervilhavam em São Paulo, patrocinados pela intensa imigração, já que muitas empresas britânicas multiplicavam-se para explorar as oportunidades comerciais de São Paulo, que vivia uma ascensão agrícola sem precedentes, no outro lado do Atlântico, mais especificamente no dia 12 do mês de outubro de 1894, um garoto chamado Charles William Miller retornava a São Paulo, após ter cursado seus estudos no Banister Court School em Southampton, e a coluna esportiva “Ariel” da revista “The Southampton Times and Hampshire Express” escreveu o seguinte, nos comentários da reunião da Associação de Football do Condado de Hampshire:

” Charles Miller, o esperto ponta esquerda do Banister Court School, deixou, na última sexta-feira, a Inglaterra de retorno ao Cabo (sic). Nunca poderíamos imaginar ter um jogador tão popular e genuíno como Miller, e expressamos nossos votos unânimes de gratidão pelos serviços prestados ao Condado, e desejamos votos de sucesso para um feliz retorno ao seu novo lar. Assim o Conselho deliberou na sua última reunião, e nada mais merecido. ”

Claro que o jornalista cometeu um deslize geográfico. Charles Miller não estava retornando ao “Cabo”, na África do Sul, mas sim, voltan­do para a sua terra natal: São Paulo, Brasil. Em 1894 ele retornou ao Brasil com duas bolas de capotão e um livro de regras, para jogar este novo e cativante esporte, até então desconhecido no Brasil.

Charles Miller on Southampton FC

Dessa forma, com o retorno do Charles Miller para São Paulo, estava nascendo o futebol brasileiro. Charles Miller, filho de John Miller (engenheiro escocês) que veio para completar o staff da São Paulo Railway, e Carlota Alexandrina Fox, nasceu em 24 de Novembro de 1874 numa chácara no bairro do Brás. Com quase 10 anos, após concluir sua educação básica localmente, foi enviado a Inglaterra em junho de 1884 a fim de completar sua educação, como era de costume naqueles tempos para filhos de britânicos.

Foi para a Banister Court School, em Shouthampton, no Condado de Hampshire, numa época em que a mocidade britânica cultivava o esporte em toda sua plenitude, “mens sana in corpore sano”, diziam. Miller logo na sua chegada sentiu o peso disto pela manifestação de um professor: “Meu jovem rapaz, você veio a este lugar de ensinamentos para aprender novas matérias, porém não esqueça do esporte, que é o alimento para mente, alma e espírito”.

É possível imaginar o que se seguiu deste ponto não ? Este breve relato é um pequeno pedaço, da história que tanto o Memorial SPAC, fornece, tão como o livro “Charles William Miller – 1894 – 1994” de John R. Mills, que apresentam um detalhamento e riqueza esta nossa tão nobre história do futebol.

Para os amantes do esporte, deve ser leitura obrigatória, é um marco, para todos, saber o “inicio de tudo”, que ocorreu num cenário mundial repleto de ocorrências históricas e de grandes mudanças para a civilização (Revolução Industrial, 1ª grande Guerra, A Reforma, etc..).livro Johm R Mills

Algumas pinças desta obra:

Nem Barão de Mauá imaginaria

Uma Londres na Serra do Mar, ajudando a semear o esporte

Os Chutadores da Távola redonda

Com o pé não vale

A origem da “chaleira”

 


 

No Memorial encontramos vários troféus, medalhas e outros méritos das conquistas do São Paulo Atlhletic Club, e uma área especial dedicada a Charles Miller e os principais acontecimentos de sua vida.

Miller em abril de 1895 organizou com seus colegas do SPAC o primeiro “jogo oficial” de futebol (que seguia regras), que foi disputado numa gleba de terra na Várzea do Carmo, entre as equipes da São Paulo Railway (SPR) e a do The Gás Co, fornecedora de gás da capital. O resultado foi de 4 x 2 para a SPR, com dois gols de Charles Miller. É considerado desta maneira a primeira partida de Futebol do Brasil. Com isto, o Brás seria, assim, o berço do esporte mais popular do Brasil. Muito mais do que isso: Charles Miller nasceu no Brás, a primeira partida foi disputada no Brás e os dois times eram sediados no Brás.

SPAC w Charles William Miller no centro_1905

Este jogo seria a semente, que tornou o SPAC o primeiro tricampeão da Liga Paulista de Futebol, precursora da Federação Paulista de Futebol em 1902, 03 e 04, cujo troféu é o destaque da exposição no Memorial. Vale destacar que o campeonato de 1902, foi o primeiro do Brasil também.

Tri-campeonato do SPAC

 Trofeu Tri-Campeonato do SPAC_1902_1903_1904

Trofeu de Tri-Campeão Paulista 1902-1903-1904. Peça em destaque no Memorial
Base do trogeu do Tri

A base do troféu com os detalhes da conquista.

O SPAC ganharia seu quarto e último título em 1911. Em 1912 disputou seu último “Paulistão”. Segundo o historiador oficial do SPAC, John Mills, um profissionalismo não-oficial já havia se instituído na Liga, que oficialmente ainda era amadora. O estatuto do clube pregava o amadorismo completo, e, por não aceitar participar do falso amadorismo vigente preferiu abandoná-la definitivamente. Hoje o futebol existe no SPAC, mas na condição de esporte amador afinal seu mais ilustre sócio foi Charles W. Miller, além de outras modalidades como rugby (o mais tradicional do Brasil), natação, Tenis, e Bowls (um dos esportes mais tradicionais da cultura do clube).

O SPAC é também o maior ganhador de títulos brasileiros de rugby de todos os tempos.

Todas estas modalidades tem seus sucessos representado neste memorial, junto com a história de Charles Miler.

Mas o evento de 1895, no Brás, revelou necessidade de campos de futebol e somente em 1901, o Velódromo Paulistano, construído em 1892 para as corridas de ciclismo, passou por adaptação e tornou-se o primeiro estádio de São Paulo e do Brasil. Nesse período, a participação feminina nas arquibancadas do Velódromo era freqüente.

Pertencia ao Clube Atlético Paulistano e foi alí que o SPAC com Miller sagrou-se campeão !

Ficava na rua da Consolação entre as ruas Martinho Prado e Olinda, onde é hoje a rua Nestor Pestana e o Teatro Cultura Artística, na região central da cidade de São Paulo, vizinho da atual área da Praça Roosevelt.

Charles Miller era considerado “Emérito fintador”, perito dominador da bola com gula para gastá-la entre suas chuteiras, segundo a crítica da época.

Sofreu o desgosto de ver o Brasil derrotado em 1950, na única Copa Mundial disputada aqui, mas não teria o prazer de vê-lo campeão pela primeira vez em 1958, pois morreu em 1953.

São Paulo reconheceria o valor e a importância de Charles Miller dando seu nome a praça situada em frente ao estádio do Pacaembu. Charles Miller foi o artilheiro do primeiro Campeonato Paulista, marcando 10 gols. Jogou durante muitos anos pelo SPAC.

Deu ao seu time o título de campeão no 1º CAMPEONATO PAULISTA DE FUTEBOL, marcando os dois gols decisivos da partida.

Os primeiros clubes de futebol na cidade de São Paulo começaram a surgir na última década do século XIX. O SPAC, fundado em 1888 para a prática de críquete, adotou o futebol como esporte em 1896. Em seguida, em 1898, houve a criação da Associação Atlética Mackenzie College, assim como a do Sport Club Internacional e a do Sport Club Gêrmania (atual Pinheiros), ambas em 1899, e também a do Clube Atlético Paulistano, em 1900, que formaram, em 1901, a Liga Paulista de Futebol. Nos anos seguintes, também nos bairros operários, foram criados clubes como Sport Club Corinthians Paulista (1910), Palestra Itália (1914), Clube Atlético Juventus (1924), entre outros.

Trazer a tona esta história e mais, divulgar este tesouro do Memorial SPAC – Charles Miller é tremendamente adequado face ao momento que estamos e estaremos vivendo até 2014 quando realizaremos a Copa do Mundo.

Neste aspecto, Sérgio Miranda Paz, membro do PreservaSP, apresenta este “briefing” nos eventos que coordena saudando o novo momento e realçando o passado da evolução do esporte:

 

Não deixe de conhecer este templo da história dos esportes e em especial do futebol:

visitas-museu-charles-miller


Veja Também :

  1. De Charles Miller a Copa de 2014
  2. SPAC tornou-se “Marco Histórico do Futebol Brasileiro”
  3. Wiki – São Paulo Athletic Club
  4. Galeria
  5. Introdução do futebol no Brasil
  6. Os Pioneiros do Futebol em São Paulo
  7. História do Futebol
  8. Estádios extintos
  9. FIFA – Onde tudo começou e vai começar
  10. The Museum of Football

Agradecimentos especiais:

  • John Robert Mills – Autor do livro Charles William Miller 1894-1994 e Historiador do São Paulo Athletic Club, pela gentileza em ceder autorização para divulgação de partes do livro e de fatos da história relacionada.
  • Mileide Nascimento – responsável pelo Memorial Chalres Miller, pela nossa recepção e pela ajuda nas autorizações e informações adicionais para esta postagem.
  • Sérgio Miranda Paz – Doutor em Turismo pela ECA-USP, membro do Preserva-SP e do MemoFut (memorialistas do futebol), pelo apoio nas informações e na sua atuação junto ao PreservaSP, nos eventos relativos a memória do futebol.

Updated: 21/12/2012 — 4:08 pm

13 Comments

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  1. Awesome! Its truly remarkable piece of writing, I have got
    much clear idea on the topic of from this paragraph.

  2. Muito bom.
    Um abraço

  3. Caro Luiz
    Excelentes o seu texto e o material que você divulgou! E, se tiveram a aprovação do Sr. John Mills, quem poderia contestá-lo???
    Quanto à pergunta do Jimmy, sobre o número da camisa do Charles Miller, por favor, responda a ele (eu tentei, mas não consegui):
    Nos tempos de Charles Miller, as camisas não tinham números! Para se ter uma ideia, a primeira Copa do Mundo em que foram utilizados números nas camisas foi a Copa de 1950, no Brasil!!!
    Um ótimo 2013, e um grande abraço,/ Sérgio

  4. Luiz, li e reli sua postagem. Realmente maravilhosa! Nota-se a sua autêntica paixão pelo esporte, sobretudo, pela história. Parabéns. E obrigada pelas considerações.

  5. Belo texto!
    Alguém saberia dizer qual o número da camisa que o C.Miller usava ? Ou costumava usar, isso é se existia numeração naquela época ?

    1. Obrigado pelo comentário ! Vou verificar sua duvida e lhe dou um retorno !

    2. Jimmy, a respeito da questão do número da camisa do Charles Miller, não existia tal recurso nos tempos de Charles Miller! Sòmente na Copa do Mundo de 1950 foi a a primeira competição oficial a ter números nas camisas, conforme Sergio Paz, pesquisador da memória do futebol. Há também no link indicado um detalhamento maior da introdução de numeração nas camisetas de futebol: http://www.campeoesdofutebol.com.br/especial36.html

  6. Amaral, excelente! A propósito: detalhes da história do “velódromo da Dna Veridiana” fica prá próxima? Abçs.

    1. Sim, vou ter que fazer uma visita ao museu do Clube Atlético Paulistano, de quem era o Velódromo. No link galeira no final desta postagem tem algumas imagens “naftalinas” do velódromo./Abraços e Obrigado !Amaral

  7. Muito legal este reduto! É pura história. Eu não conheço o Museu do Futebol ainda, lá no Pacaembu, mas certamente lá há também alguma sessão das origens do futebol não?/ L Alnat

    1. Sim, no link http://www.museudofutebol.org.br/exposicoes/percurso-do-visitante/08-origens/ vc. poderá ver isto, ou na ala 8 quando for ao museu! Obrigado pelo comentário !

  8. Luiz,
    Adorei a matéria e foi muito legal relembrar nosso passeio…
    Um abraço, / Tatiane Cornetti (PreservaSP)

  9. Caro Luiz,
    Excelente texto, e simplesmente maravilhoso!!. Muito obrigado por tudo.
    Abraços,
    John R. Mills

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