SP Tower, e como não fazer história…

Este post é quase uma sequência do anterior onde comentávamos sobre o Skyline ranking da Emporis, onde São Paulo obteve a 9ª colocação, e por uma lembrança dada por um de nossos leitores, a respeito de um momento que São Paulo perdeu uma grande oportunidade de fazer história construindo o que na época seria o maior edifício do mundo.

Conflitos políticos, desconfianças, mídia ostensiva e até denúncias de suborno enterraram no passado um dos projetos arquitetônicos mais grandiosos e certamente complexo que esta metrópole já teve. Se ele tivesse sido concluído, São Paulo seria muito diferente nos dias atuais e certamente todas as outras capitais brasileiras. Como o “kick off” não ocorreu, nossos projetos de edifícios sequem há décadas o mesmo script, sem criatividade e sem presença nos perfis urbanos de nossas metrópoles.

Claro que estamos falando do Maharishi São Paulo Tower.

A torre formada por 4 edificações, belos jardins, monotrilho, estações de trem e metrô, entre outras benfeitorias.

A torre formada por 4 edificações, belos jardins, monotrilho, estações de trem e metrô, entre outras benfeitorias.

Naquele remoto 12 de maio de 1999, o então governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), anunciava que o Grupo Brasilinvest, investiria US$ 2,1 bilhões em três projetos imobiliários – um na cidade de São Paulo e dois na região de Campinas.

Numa cerimônia com a pompa característica, e ao lado do presidente do Brasilinvest, Mário Garnero, e de sócios nos empreendimentos, Covas festejou os três projetos que iriam gerar milhares de empregos no estado e na capital a partir do ano 2000, quando os projetos deveriam começar a ser construídos, com prazos de entrega que entre o ano de 2003 a 2005.

O empreendimento da capital era o São Paulo Tower, um megaprojeto de uma torre de 510 metros de altura e 108 andares, na realidade um conjunto de 4 edificações formando uma pirâmide, que pretendia na época ser o maior edifício do mundo, e que seria executado na região central, mais especificamente no Parque Dom Pedro II, ao lado da Avenida do Estado.

Na ocasião, estas eram as maiores construções do planeta..

Na ocasião, estas eram as maiores construções do planeta..

Certamente a principal parte do tramite ocorreria dentro da Prefeitura e na Câmara municipal para produzirem os projetos de lei e ações normativas complementares, dado o tamanho do projeto e da obra.

No total, o projeto civil atingiria uma área de 1,2 milhão de m², metade dos quais sofreriam desapropriações. A região estava dentro da área delimitada pelo antigo Programa de Revitalização do Centro (Procentro), da Secretaria Municipal da Habitação.

O projeto fora realizado pelo mesmo escritório que tinha projetado o finado World Trade Center, em NY, e cairia como uma luva numa das regiões mais degradadas dos bairros do Brás e Parí, limítrofes a região central da cidade, que haviam perdidos suas industrias para outras localidades e se tornara uma das regiões prioritárias para revitalização.

O Grupo Brasilinvest, dividia o projeto com o fundo de investimento Maharishi Global Development Found, e os grupos, que iriam investir US$ 1,65 bilhão no negócio, além do que previa-se algo em torno de R$ 210 milhões em desapropriações, já que toda área delimitada pelo projeto seria usada para erguer o prédio e todas as suas benfeitorias, como um parque quase do tamanho de Ibirapuera, parque com mais de 1 milhão de metros quadrados que consumiriam cerca de 100 quarteirões do Parque D.Pedro e seu entorno.

A área demarcada, para todo o projeto da São Paulo Tower.

A área demarcada, para todo o projeto da São Paulo Tower.

“É um projeto que dará muita visibilidade para São Paulo’, disse Garnero, lembrando que a cidade já naquela época tinha deficiência em centros de convenções e de exposições para a crescente demanda.

O São Paulo Tower teria um centro de convenções e um de exposições, além de quatro hotéis, flats, uma universidade, escritórios além de grande área residencial. O MGDF participaria com 60% do investimento e sua construção iria criar em torno de 10 mil empregos diretos e 60 mil indiretos só na construção civil. Quando pronto teria uma população fixa de 50 mil pessoas, ou seja, seria uma cidade que constaria com uma vida própria e independente. Quando ainda nem se usava a palavra sustentabilidade, o projeto contemplava que a iluminação noturna seria feita por energia solar, captada durante o dia por células fotovoltaicas. O consumo de energia seria cerca de 150 MW por dia, o suficiente para iluminar uma cidade como Bauru. Projetara-se a construção de uma usina de gás natural, com capacidade para 105 MW para ajudar a abastecer o prédio de energia. Embora não se tinha claro de como seria administrada a coleta de lixo de 75 toneladas produzidas diariamente, é fácil presumir que a tal usina de gàs pudesse ter o metano também para gerar, entre outras ações.

Quanto ao transporte urbano o projeto previa um sistema de transportes que tivesse integração ao que é oferecido pelo governo, com linhas especiais de ônibus, trem e metrô, além de heliporto e monotrilho (trem responsável pela comunicação entre os vários prédios e a torre principal) e Garnero tinha a idéia de solicitar ao governador Mário Covas uma linha de trem ligando a área ao aeroporto de Cumbica.

maquete03Se em 12 de Maio daquele ano o grupo responsável pelo projeto, encantou Mario Covas e seu staff, no dia 7 de junho foi a vez do Prefeito Celso Pitta receber os responsáveis e providenciar a assinatura do protocolo de intenções para o empreendimento. Ele também haveria de prometer em 16 de Outubro o envio do projeto de lei regulamentando a construção do mega empreendimento.

Se havia muito otimismo entre as autoridades, o mesmo era “minado” com crítica do IAB, de urbanistas e da mídia medíocre que não pode ver nada que fuja da “caixinha” ser proposto e realizado, e que com suas críticas e “achismos” leva um batalhão de alienados a pensar contra tudo e todos. O grandioso projeto nasceu mesmo sobre polêmica e dividindo opiniões graças a estas fontes que não sabem debater e aprimorar algo novo, se limitando a contrariedade por vezes sem uma análise mais visionária, por vezes apenas para satisfazer seu egocentrismo.

Nesta turbulência, o edifício e projeto acabou recebendo denominações pejorativas, como “alienígena urbano”,”palácio javanês”,”templo maia “embora a influência fosse Indú e budista)”, enfim o alvoroço de críticas foi mais para destruír do que para construir. Um dos mais ferrenhos críticos, o presidente do Instituto Arquitetos do Brasil, era contrastado com o apoio do renomado e falecido Oscar Niemeyer, e arquitetos brasileiros que foram agrupados ao projeto, como Alcindo Dell´Agnese, Edo Rocha, Benedito Abbud e Candido Malta Filho. A isto e demais cenários de resistências a obra foi muito bem definida e criticada pelo presidente do Brasilinvest, Mario Garnero, como um “nacionalismo tupiniquim”.

Mas a situação era mais crítica no lado político, principalmente na Prefeitura de São Paulo, pois Celso Pitta estava politicamente desgastado. As desventuras do prefeito que começaram com a descoberta da máfia da propina. Antes do escândalo, Garnero tinha recebido apoio de Celso Pitta, a quem caberia enviar à Câmara Municipal projeto para as desapropriações, estimadas em R$ 210 milhões.

Folha – 26/10/2000

Folha – 26/10/2000

Não bastasse isto o próprio empresário afirmava ter recebido em 1999, às vésperas do envio à Câmara de projeto que viabilizaria a construção do prédio, propostas de intermediação feita por advogados que se diziam representantes de vereadores e do prefeito Celso Pitta.
Esses intermediários acenavam com a aprovação mais rápida do projeto, caso fossem liberados recursos via caixa dois. Garnero era o coordenador do projeto, que acabou não sendo enviado por Pitta à Câmara.
Relatos sobre a cobrança de propina foram discutidos, em Nova York, pelos dirigentes do Maharishi Global Development Fund (MGDF), responsável pelo financiamento de R$ 3 bilhões.

Um de seus principais executivos, Benjamin Feldman, chegou a ficar dois meses em São Paulo, acompanhando os obstáculos políticos em torno do prédio, anunciado como o mais alto do mundo: 108 andares espalhados em 510 metros de altura, a ser instalado no desgastado bairro do Pari na região central.
A avaliação, nesses encontros, era de que, sem apoio da base governista, o projeto não passaria na Câmara: urbanistas ligados à oposição, especialmente ao PT, faziam restrições à proposta.
Mario Garnero afirmara que se formou uma barreira de intermediários, cobrando taxas para aprovação do projeto, embora ele afirmasse não ter condições de dizer se eles tinham autorização para falar em nome dos vereadores ou de Pitta. Mas a coerência do projeto e dos parceiros investidores era: “A ordem era não pagar nada” e daí se deduz o resto”, afirmava o empresário brasileiro.
Com escândalo da máfia da propina, que acuou o prefeito Celso Pitta com ameaças de impeachment, o prédio saiu, então, da agenda oficial.

Os executivos do fundo, em Nova York, viam o tempo passar, gastando dinheiro, já que toda a fase inicial já tinha consumido R$ 40 milhões.
A ansiedade e paciência dos executivos norte-americanos cresceu à medida que chegaram relatos sobre o desinteresse dos candidatos à prefeitura, especialmente Paulo Maluf e Marta Suplicy, que não iriam abraçar o projeto e em meio a críticas das mais variadas relatadas acima.

Com isto a cidade de São Paulo perdeu o bonde da história, pois este projeto se executado estaria pronto em 2005, revitalizando uma das áreas mais críticas em degradação quem tinha como ícones ilustres os edifícios São Vito e Mercúrio (os treme-tremes), que só recentemente foram ao chão, além disto dariam uma nova ordenação quando a verticalização mais adensada e menos distribuída como se tornou depois e na atualidade, a cidade teria novas referências e espaços sociais e culturais, já que o projeto manteria ícones como o Mercado Municipal, Palácio das Industrias (museu Catavento cultural), Casa das Retortas, restauro e conservação de igrejas do local, centros esportivos, e uma arrecadação só de IPTU em torno de R$ 15 milhões, além investimentos privados próximo a R$ 3 bilhões, além claro, de toda a infraestrutura de transportes e do sistema viário.

Com a “micada” o que se viu foram cidades do sudeste asiático e da China se tornarem as metrópoles do século 21, com torres das mais conservadoras as mais bizarras, tirando do ocidente a partir de São Paulo a oportunidade de saltar a frente.

Com o novo plano diretor de não limitar altura de edificações em determinadas situações poderemos até recuperar o tempo perdido, mas que o gosto amargo da não realização do “Maharishi São Paulo Tower” foi duríssimo, não resta dúvida que foi !

A ferida foi tanto, que este blog tentou obter mais informações com todos os envolvidos no projeto e até a presente data, nada retornaram.

Veja: Tower of Peace on skyscraperpage


Bibliografia/Fontes:

  • Acervos: Folha, Estadão, VEJA, Acervo pessoal

sptower

 

Updated: 11/06/2015 — 6:55 pm

6 Comments

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  1. Resumindo: IAB e Niemeyer (caduco) ficaram co inveja por não estarem participando do projeto…

    1. Certamente, ficaram mordidos !
      Obrigado pelo comentário…

  2. João Lopes de Barros

    Amaral, é realmente triste ainda termos nos dias de hoje tantas pessoas influentes e ao mesmo tempo contrárias ao desenvolvimento, como este caso descrito muito bem por você neste post. São pessoas como estas que atravancam o progresso por possuírem interesses mesquinhos ou simplesmente tendências conservadoras inexplicáveis. É realmente lamentável!!!

  3. Que pena pois certas iniciativas de desenvolvimento sempre esbarram em alguns que insistem em propinas e vãos egocentrismos… O Brasil precisa mesmo sair deste marasmo dos políticos sem escrúpulos que só se interessam em seus bolsos!

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