Mês: dezembro 2020

Uma cidade tatuada…

Um fenômeno tem ocorrido em São Paulo (e em muitas outras cidades do mundo), que é a ocupação artística de fachadas mortas (ou empenas cegas), nesses últimos anos.

Liderada pelas grafites que há décadas cobrem várias localidades da cidade, pode-se dizer que as pinturas saíram do “andar térreo” e subiram as grandes paredes disponíveis nas edificações da metrópole. E São Paulo já ostentava o titulo mundial de streetArt muio antes disto.

O skyline de São Paulo acabou se transformando na produção de murais gigantescos nas fachadas, exaltando cores e imagens..

Numa das ruas mais verticalizadas da cidade, Rua Líbero Badaró, no centro, uma tela nesta fachada, quebra a monotonia urbana do local. Aqueles que saem da estação São Bento do Metrô, são bombardeados pela gigantesca tela colorida. Um dos grafites mais destacados da região. Esta fachada já teve outros desenhos, pois eles são renovados com o tempo.

Paredões vazios se tornaram um negócio, onde militam empresas, artistas, produtoras culturais, condomínios, etc., que trabalham com orçamentos de milhares de reais, para embelezar a cidade e “quebrar” aquela densa e uniforme urbanização da cidade. As enormes expressões artísticas tornam mais agradável a circulação pelas ruas e avenidas da cidade verticalizada. Há obras em toda a cidade, mas uma concentração nas regiões centrais, Elevado Presidente Costa e Silva (minhocão) Rua da Consolação, Vale do Anhangabaú Largo do Arouche, República e outras avenidas, são os locais mais preferidos.

Quando, a 1º de janeiro de 2007, o então prefeito, Gilberto Kassab, sancionou a Lei Cidade Limpa, proibindo anúncios nas edificações acabou pot tornar São Paulo num atelier de milhares de telas em branco (ou sem vida), prontos para serem usadas. Na esteira desta oportunidade vários grafiteiros começaram a se destacar e compor uma listas de artistas, liderada por Kobra e OsGemêos. Estes presentes com obras em outras grandes cidades no Brasil e no mundo.

Além dos produtores Kobra e OsGemêos outras produtoras que surgiram na onda, como Dionísio Arte, produtora cultural Vera Santana, Produtora NaLata, Kleber Pagú, OPNI, Instagrafite, entre outras agregam grandes patrocinadores (empresas multi-setoriais) que contribuem com os custos de cada projeto ou com doações, como tintas por exemplo. É um negócio que gera arte e muda as cores da cidade.

Além do próprio estilo grafite de cada um, também se apresentam obras que lembram o estilo cubista, abstrações e imagens realistas (como um painel de São Paulo antiga) na avenida Tiradentes.

Algumas fachadas grafitadas da cidade

Apesar de grafite ter se tornado evento cultural, a cidade sofre por outro lado com as famosas pichações. Ambas manifestações tem suas origens na pré-história do homem, como atestam as descobertas arqueológicas em cavernas, templos…, mas as pichações conquistaram um repudio social e legal. Não a toa, surgiram legislações para regulamentar essas expressões.

No âmbito federal, foi instituída a Lei Federal de Crimes Ambientais, de 1998, que divide os trabalhos entre pichação e grafite. Enquanto pichar é proibido sob pena de detenção de três meses a um ano e multa, o grafite é permitido, desde que com autorização e “objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante uma manifestação artística”.

A pena passa para seis meses a um ano de detenção caso a pichação seja realizada em monumentos ou locais tombados

Em São Paulo ainda há uma legislação própria, onde os trabalhos são regulamentados pela Lei Cidade Limpa, que permite grafites em áreas públicas desde que com autorização conjunta da Comissão de Proteção à Paisagem Urbana e das subprefeituras. Quando se trata de uma intervenção numa propriedade privada, o pedido tem de ser feito para o proprietário legal, síndicos, empresas proprietárias de imóveis, etc. Sem autorização, os grafites podem também ser considerados crimes ambientais, e os autores estão sujeitos a pena de até um ano de prisão.

Por conta da recente legislação com fiscalizações e denuncias, as pichações tem diminuído recentemente, contudo há um legado estampado em várias construções na cidade principalmente em construções abandonadas ou desapropriadas e “esquecidas” pelo poder publico. Uma “sujeira urbana” !

Numa sinopse, a aceitação pela sociedade do grafite tem mudado devido à legislação e à disseminação dessas grandes telas pela cidade de São Paulo.

Algumas delas são incentivadas pela Prefeitura, outras por empresas, condomínios… Muitas dessas obras têm sido produzidas com o objetivo de embelezar a cidade e valorizar pontos turísticos, favorecendo o reconhecimento, a popularidade de produtores/grafiteiros e fomentando uma economia de negócios em torno do grafite, incorporando sua produção aos interesses do mercado.

Este processo acabou por criar maneiras de contornar as limitações às publicidades impostas pela Lei da Cidade Limpa, que têm sido empregadas por grandes empresas, agências de publicidade, produtoras culturais, além de tirar a plástica monocromática urbana.

O Minhocão (elevado Costa e Silva), tem se tornado um dos locais preferidos para os painéis artísticos, em contraponto a decadência dos famosos jardins verticais nas fachadas dos edifícios no entorno da via elevada

Este projeto acabou se revelando um insucesso devidos aos problemas decorrentes para mantê-los. Queixas de insetos circulando pelos apartamentos, umidade nas paredes, custo elevado para mantê-los, abandono da subvenção da prefeitura para a manutenção, estão obrigando a mesma a removê-los. Quatro deles estão sendo desmontados, ao custo de R$ 1,077 milhão. Portanto mais “telas gigantes”  estarão disponíveis para serem preenchidos pelos os artistas.

Certamente os custos de uma fachada grafitada são menores que os jardins verticais, e dão oportunidades para as pessoas da arte e produtores culturais, etc e contribuem para uma alteração urbana agradável.

E por isto, a cidade está toda tatuada….


Updated: 09/12/2020 — 7:08 pm