Mês passado o sistema de trólebus de São Paulo completou 70 anos. Criado ao final da década de 40, do século passado, foi implantado em São Paulo e no Brasil em 22 de Abril de 1949, após conturbados anos de transferência do transporte público das mãos privadas, da Light para a então criada estatal CMTC, Companhia Municipal de Transportes Coletivos.
Aliás a acervo recebido pela CMTC era de bondes já precários pelo congelamento de tarifas que o governo impunha a Light durante anos, claro numa ação de sufocamento premeditado, para estatização do sistema de transportes.
A novata CMTC não priorizou a modernização dos bondes e como primeiras ações foi inovar com ônibus elétricos, que foram importados já em 1947 ano da fundação da CMTC.
Contudo a cidade de São Paulo acabou sendo pioneira no Brasil a utilizar o sistema de transportes por trólebus. Quando em 22 de abril de 1949 inaugurou sua primeira linha fazendo o percurso Aclimação – Praça João Mendes no centro, uma linha de bonde a de nº 19, foi extinta substituída pelo novo sistema. Esta linha foi ampliada depois até o bairro das Perdizes.
Já estava claro então o que viria a acontecer, pois com o passar dos anos os ônibus elétricos foram ganhando mais linhas para atender a população, rivalizando e ganhando a batalha com os velhos bondes paulistanos. Os bondes acabaram agonizando com a concorrência dos trólebus e também dos ônibus tradicionais até que sua última linha foi descontinuada em 1968.
Os “grandões com suspensórios” como eram popularmente apelidados, nadaram em bom período de expansão e atendimento a população, dando conforto, rapidez, sem poluição, quando nem existia esta preocupação e solidificaram sua presença no tão afamado sistema de transportes públicos de SP.
Chegaram a ter mais de 500 veículos, se tornando uma das maiores frotas do mundo neste tipo de transporte. Outras cidades brasileiras aderiam a este tipo de ônibus, mas por algumas razões não evoluíram como em São Paulo e foram descontinuados.
Fazendo uma sinopse da frota de trólebus, com e sem a CMTC a história mostra:
- De 1949 a 1957 – aquisição de 155 trólebus importados.
- De 1958 a 1967 – aquisição de 24 trólebus de primeira geração, fabricados no Brasil.
- De 1963 a 1969 – a CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos) montou seus próprios trólebus em suas oficinas, assegurando a sobrevivência do Sistema na década de 70. Foram 145 veículos.
- De 1979 a 1982 – aquisição de 290 trólebus modernos de segunda geração, fabricados no Brasil, no Programa Nacional de Trólebus, com recursos no Governo Federal.
- De 1985 a 1987 – aquisição de 80 trólebus de terceira geração, fabricados no Brasil.
- De 1996 a 1998 – reforma de 284 trólebus e aquisição de 111 novos veículos brasileiros de quarta geração.
- De 2002 a 2004 – desativação de parte da frota de trólebus, sendo que 37 deles tinham pouco tempo de uso e plenas condições de operação. Outros veículos, apesar da idade, poderiam continuar em operação, bastando uma reforma ou revisão geral.
- De 2008 a 2014 – aquisição de 212 trólebus da quinta geração, fabricados no Brasil, equipados com os mais modernos componentes, similares aos utilizados nos modernos trólebus da Europa. Estes trólebus são equipados com motor de tração de corrente alternada, os quais são mais baratos na aquisição e na manutenção e carroçaria com piso baixo. Cinquenta destes trólebus são dotados de baterias de tração que permitem a operação desconectados da rede aérea em situações de problemas com a rede, falta de energia no circuito ou desvios de tráfego. Esta frota terá uma vida útil até 2025, pelo meno
Razões como custo de importação e de aquisição local fizeram a CMTC num ato pioneiro e de destaque, fabricar trólebus em oficinas próprias, com alguns parceiros locais e materiais importados. Com outras encarroçadoras como a Ciferal, saíram da linha de produção da CMTC 145 unidades. Além disto, outras carrocerias de vários fabricantes de ônibus diesel foram adaptados para tração elétrica e garantiram a sobrevivência do sistema por longos anos.
Mas ainda assim por razões de ineficiência estatal não garantindo modernização e manutenções mais adequadas, associado a ações imaturas de políticos, quase acabaram com eles em São Paulo também no decorrer da segunda metade do século passado.
Durante a administração da prefeita Marta Suplicy, várias linhas foram extintas e foi removida a fiação aérea no Corredor Santo Amaro, Av Faria Lima, Av Lineu de Paula Machado, da Rua Augusta e em toda Zona Norte, totalizando dezenas de quilometros de vias, reduzindo-se a apenas 280 trólebus em atividade, na época. Como esperado não foi dado justificativa técnica para esta agressão ao sistema, e sim políticos, pois a prefeita e seu secretário de transportes Jilmar Tatto disseram publicamente não gostar de trólebus e que os “achava feios” e tinham a pretensão de acabar com o sistema.
O sistema acabou por questões ambientais resistindo, afinal estudos mostravam que quase 30 mil toneladas de emissão de carbono (2018) foram evitadas e apesar do golpe político duro, o sistema sobreviveu e atualmente resiste com 201 veículos altamente modernos, boa parte deles articulados em plena operação sustentável, sua maior vantagem.
Mais baratos do que os veículos a baterias, híbridos e a gás, tem sua existência ameaçada constantemente por eles, pois testes contínuos destas novas tecnologias são realizados e a maior ameaça reside nos novos modelos de baterias que já circulam na cidade.
Mas nas mãos de concessionárias privadas as linhas que sobraram são modernas, sofrem constantes atualizações para atender novas exigências urbanas, e o mais curioso é que a 1ª linha implantada entre o Bairro da Aclimação para as Perdizes ainda opera no mesmo trajeto criado a décadas, junto com mais 8 linhas sobreviventes. Em paralelo, ligações com a grande São Paulo, sobre a execução da EMTU expandiram linhas e corredores para municípios vizinhos.
Aliás com a ampliação de corredores exclusivos, padrão BRT ou não, este tipo de veículo pode ter um fôlego bastante significativo como ocorre em outros países, que ainda em 2018 este tipo de modal registrou um crescimento de 32% no mundo.
Não por acaso especialistas também concluíram no final de 2018 que a remoção de 33 km de rede de trólebus em São Paulo no período recente, mais uma vez, repetiu o erro cometido no passado negligenciando este meio de transporte limpo, sustentável e altamente moderno, usado ainda vários países em cidades de vários perfis.
As sucessivas licitações para o transporte público na cidade têm mantido os “grandões de suspensórios” em pauta, o que dá fôlego a estes veículos que possuem uma rica história contada nestes links:
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Tr%C3%B3lebus_de_S%C3%A3o_Paulo
- http://netleland.net/hsampa/htrolebus/htrolebus.html
Além disto existem dois modelos icônicos expostos no museu de transportes da SPTrans, e mais um aguardando reforma para nas garagens da SPtrans para serem colocadas no museu.
Com relação ao Brasil, o blog não conseguiu dados consistentes se ainda existe este sistema em outras cidades. Caso o leitor seja morador de alguma cidade que ainda usa este sistema pode enviar para o blog detalhes do sistema, no campo de comentários. Atualizaremos o post na medida que chegarem as informações…
Veja também:
Um museu virtual dos trólebus de São Paulo.
Imagens de trólebus de todos os tempos, aqui
Bibliografia/Fontes:
- Museu de Transportes da SPTrans
- Wiki Trólebus de São Paulo
- Acervo Pessoal
- Demais créditos nas próprias imagens
- Canal ViaTrolebus