Quinto templo neogótico do mundo, ícone de São Paulo, um dos pontos turísticos mais visitados, de repente se viu em toda a imprensa brasileira e internacional, por conta de um bárbaro crime em suas portas.
Mas o objetivo aqui não é cultuar o tal fato deplorável, que tanto nossa impressa adora, mas sim detalhar o que é esta magnífica construção no centro de São Paulo, sua história, seus tesouros e seu patrimônio.
Muito antes da catedral que hoje conhecemos, sua primeira versão no formato de igreja foi instalada em 1591, quando o cacique Tibiriçá escolheu o terreno onde se encontraria o primeiro templo da cidade, construído em taipa de pilão (parede feita de barro e palha socados, estruturados em toras), até que em 1745, a “velha Sé”, como era conhecida, foi elevada à categoria de catedral. Neste mesmo ano, iniciou-se a edificação da segunda matriz da Sé, no mesmo local da anterior e ao lado dela, em meados do século XIII, levantou-se a Igreja de São Pedro dos Cléricos.
Nesta ocasião a cidade com poucos habitantes e era muito pequena sendo a área central delimitada pelo famoso triângulo de São Paulo que era moldado pelas três principais ruas, ruas São Bento, 15 de Novembro e Direita.
A antiga catedral ficava próximo ao vértice do encontro de ruas Direita e 15 de Novembro e muito provavelmente os fundos da construção cobriam a área onde hoje se encontra o bloco de granito do marco zero da cidade. A velha Sé e sua companheira ao lado eram igrejas tipicamente do tempo da colonização portuguesa. A fachada era semelhante à de uma casa comum, porém mais rica, com uma grande porta na entrada e três janelas na parte superior.
Era uma região frequentada pela aristocracia da cidade, onde senhores e senhoras bem vestidos participavam das muitas reuniões e eventos festivos que eram realizadas no local.
Mas em 1911, os dois templos (catedral da Sé e Igreja de São Pedro) foram demolidos para dar espaço ao alargamento da Praça da Sé e, finalmente, à construção versão atual da catedral.
A nova catedral começou a ser construída em 1913 como é hoje, por um projeto elaborado pelo alemão Maximilian Emil Hehl, professor de Arquitetura da Escola Politécnica. O templo foi inaugurado parcialmente em 25 de janeiro de 1954, para a comemoração do 4º Centenário da Cidade de São Paulo, ainda sem as duas torres principais e outros elementos. As torres foram terminadas somente em 1967 e as obras foram conduzidas inicialmente por Alexandre Albuquerque, e, a partir de 1940, por Luís Inácio de Anhaia Melo.
Ainda assim eram diversas as partes não executadas do projeto original do arquiteto Maximiliano Hehl, de 1912, bem como de adaptação interna para o cumprimento de novas funções, além das religiosas.
Após um longo período de deterioração, a catedral foi completamente renovada entre 2000 e 2002 bem como concluída pois as plantas originais, datadas de 1912, foram encontradas dentro do próprio edifício, permitindo uma restauração e complemento das partes faltantes fiel ao projeto original.
A restauração incluiu reparos nos vitrais, manutenção das redes hidráulica e elétrica, resolução de problemas que ameaçavam a estrutura, como rachaduras e infiltrações e lavagem e pintura do prédio. Restaurada, a catedral ganhou 14 torreões novos, previstos no projeto original de 1912 de Maximilian Emil Hehl, reabrindo suas portas após um consumo de R$ 19,5 milhões.
Mas ainda faltariam os sinos que paralisados em 2005, somente em 2010 foram devolvidos restaurados, modernizados. Ficaram portanto 5 anos, no mais absoluto silêncio.
Uma das maravilhas desta catedral é também um órgão que foi construído em Milão pela empresa italiana Balbiani & Rossi em 1954. Sua inauguração ocorreu em 25 de novembro de 1954, no “Dia de Ação de Graças”, doado pela companhia Antárctica Paulista. Foi restaurado em (1996-1997) sob o patrocínio do Banco Real. O instrumento tem dois corpos e uma “console” (mesa de teclados), colocada atrás das colunas que rodeiam o altar-mór, com cinco teclados (cada um com 61 teclas) e uma pedaleira. Possui cerca de 10 mil tubos sonoros e 124 registros, sendo 112 os registros reais. Cada teclado possui, prontas, cinco combinações sonoras fixas e seis combinações manualmente ajustáveis. Quanto à fônica, o organista dispõe de um complexo sonoro de timbres peculiares. É o maior órgão de tubos do Brasil e da América Latina.
Outra característica e a existência de uma Cripta. uma espécie de capela cavada bem debaixo do altar principal. Foi a primeira parte a ser construída da nova catedral. O espaço tem 619 metros quadrados e 7 metros de altura, piso de mármore de Carrara, em preto e branco, e o teto, cheio de arcos com tijolos, parecidos com os da catedral.
Estão sepultados quinze corpos de bispos portugueses e brasileiros que atuaram na cidade de São Paulo além de guardar os restos mortais do cacique Tibiriçá, o primeiro cidadão de Piratininga, e do padre Feijó, Regente do Império. Ainda dentre os “moradores” da cripta, está o corpo do primeiro bispo brasileiro, Antônio Joaquim de Mello, de 1861.
Regente Feijó personagem ilustre sepultado na cripta foi governante do Brasil durante o Período Regencial. Há ainda, parte dos restos mortais do sacerdote Bartolomeu Lourenço de Gusmão, brasileiro a quem foi dada a primeira patente de invenção em 1707, famoso por ter inventado o primeiro aeróstato (balão) operacional, a que chamou de “passarola”
A catedral é a maior igreja de São Paulo, com 111 metros de comprimento, 46 de largura, duas torres com 92 metros de altura e uma enorme cúpula. Tem capacidade para abrigar 8.000 pessoas. No acabamento foram usadas 800 toneladas de mármore. Suas medidas a tornam uma das maiores igrejas do Brasil e do mundo. É considerado o quinto maior templo neogótico do mundo, estilo arquitetônico originado em meados do século XVIII na Inglaterra. Há inúmeros exemplares na Europa, na América do Norte e também espalhados pelos Brasil.
Um detalhe curioso, é que o sino que anunciou a independência do Brasil, estava instalado na antiga catedral, “a Velha Sé”, mas que não aguardou a nova catedral e foi instalado no Mosteiro da Luz depois que o antigo tempo foi demolido em 1913. Mas em 1942, o sino foi doado a igreja de São Geraldo no bairro das Perdizes onde permaneceu. Fundido em bronze misturado a 18 kg de ouro, com uma altura de 1,75 m por 1,70 m de diâmetro, o sino pesa 2.250 kg. Foi fundido por Francisco Chagas Sampaio em 1820. No sino estão gravados o nome do autor, as armas do Reino de Portugal e trecho do salmo 150.
É muito melhor lembrar da nossa catedral com estas histórias e atrações, que passam ainda por belos vitrais, esculturas e uma acústica impecável.
Vale sempre uma visita….
Veja também:
Fontes/Bibliografia:
- Gerodetti, João Emilio e Cornejo, Carlos – Lembranças de São Paulo, Solaris E. Culturais – 1999 São Paulo
- Ilustrações Carrilhão: Folhapress – Imagens: Aquivo Histórico Municipal, Arquidiocese de SP, Acervo Pessoal
- Videos:TV Gazeta, TV UniESP, Andando por SP, RedeTV