No centro de São Paulo, há uma localidade que tem a primazia de ser esquina famosa (o esquinão), onde hoje está instalada a Prefeitura de São Paulo. Trata-se do Edifício Conde Francisco Matarazzo, que faz esquina com o Viaduto do Chá, com a Rua Dr. Falcão, com a Rua Libero Badaró e finalmente com a Praça do Patriarca.
Neste local, o cenário acompanhou as transformações de São Paulo desde o final do século 19, e hoje desfruta de uma modernidade muito discutida pelos urbanistas, o telhado verde.
Antes porém, na curiosa esquina, teve no inicio dos anos 30 o famoso e luxuoso Hotel de La Rotisserie Sporstman, onde se hospedavam ilustres, era uma dos três palacetes Prates, que adornavam o Parque do Anhangabaú, de estilos totalmente europeus:

Aqui a demolição da bela construção em 1935. Pouco antes de sua demolição ali funcionava o Diário da Noite. Vê-se a esquerda o viaduto do chá saindo da praça do Patriarca.
O Conde Matarazzo II, adquiriu o local a pedido de seu pai, para construção de um edifício para abrigar a sede da IRFM (Industrias Reunidas Francisco Matarazzo), o maior grupo empresarial e fabril do Brasil.
Este era o projeto que ganhou um concurso encomendado pelas IRFM, de Severo & Villares, para a nova sede das IRFM em São Paulo, em 1935. Entretanto ele sofreu grandes mudanças pelo arquiteto italiano de passagem por São Paulo, Marcello Piacentini, e por seu colaborador mais próximo, Vittorio Morpurgo dando seu formato atual.
Neste cenário de registro raro, em 1937, se observa o edifício Matarazzo sendo construído, sem que ainda tivesse o antigo viaduto do Chá (à direita) sido demolido. Ao fundo se vê a Praça do Patriarca com o edifício do Mappin Stores, e a esquerda mais um dos edifícios Prates onde funcionava o luxuoso Automóvel Club. Pouco tempo depois ele também foi demolido para construção do edifício de mesmo nome (Conde Prates).

O edifício Conde Francisco Matarazzo em sua forma atual e com um detalhe curioso em seu teto: o telhado verde.
Como mencionado ele foi construído pelo Conde Francisco Matarazzo II para ser sede das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, o maior conglomerado de indústrias do Brasil. O arquiteto italiano Vittorio Morpurgo projetou o novo prédio e outro patrício, Marcello Piacentini (um dos arquitetos oficiais do posteriormente chamado estilo EUR – Exposição Universal de Roma, de 1942 , diretamente ligado à arquitetura fascista, incentivada por Mussolini) também participa do projeto, que foi inaugurado em 1939. Com linhas sóbrias, dimensões colossais, pilares altíssimos, mármores, mosaicos, espelhos o prédio (e o conceito de sua construção) pretendia reproduzir a grandeza do Império Romano. O efeito é surpreendente, magnífco.

Um conjunto de janelas no 5° apresenta as letras MMM (tríade Matarazzos), onde ficavam as diretorias, o Conde e demais familiares. É neste andar que está também o Gabinete do Prefeito nos dias atuais.
As IRFM, ficaram no edifício de 1939 quando foi inaugurado até 1972 quando foi vendido ao Grupo Audi. Depois disto em 1974 passou a ser propriedade do Banco do Estado de São Paulo, que recebeu o apelido de “Banespinha”, (já que o “Banespão” ficava na Praça Antonio Prado) e nele instalou vários serviços, diretorias, e um complexo cultural a disposição do público com cerca de 37 mil livros diversos, além de gravuras, pinturas e esculturas, documentos históricos, moedas, revistas, jornais e vídeos, portanto o Museu e a Biblioteca do BANESPA, que foi freqüentado por anos por milhares de visitantes, razão pela qual até hoje é ainda é referenciado como banespinha.
Na década de 1990 o edifico foi tombado internamente, algo inédito, visando portanto sua preservação e impedindo, que ocorressem reformas “modernizantes” que poderiam descaracterizar seu ambiente interno.
Devido a privatização do Banespa em 2004, o edifício foi cedido à prefeitura como parte da negociação da divida de R$ 885 milhões da extinta CMTC com o banco, até então proprietário do prédio. Pelo acordo o município passaria a dever R$ 156 milhões, a serem pagos em quatro anos para o novo proprietário do Banespa, o Banco Santander, que ainda tinha a contrapartida pelas contas dos funcionários públicos.
Desde então o prédio é a sede da Prefeitura Municipal de São Paulo. Além de banespinha ele também é chamado de Palácio Anhangabaú
Mas o edifício além da particularidade de não possuir o 13º andar, como muitos na cidade por questões supersticiosas, possui no último, o Jardim Walter Galera, um pequeno bosque suspenso a 80 metros.
Galera, morto em 1995, foi o seu idealizador e também o responsável pelo local desde a época em que o edifício pertencia a família Matarazzo.
O jardim conta com 400 espécies, dezenas de plantas ornamentais, árvores frutíferas e outras com mais de 8m de altura, ervas medicinais, um lago de carpas, onde os pássaros que sobrevoam o local dão um ar de bosque à sede da prefeitura.
Num momento em que se discute em várias cidades projetos de jardins verticais e teto verde, para aproveitamento estrutural e por questões ambientais, o jardim do Edifício Matarazzo tem mais de 50 anos, e comprova o que todos os estudos afirmam, pois ao crescer, as plantas absorvem do ar o gás carbônico, principal responsável pelo aquecimento global (o famoso “seqüestro de carbono”). A vegetação ajuda no filtro da poluição das cidades. E a superfície com plantas absorve menos calor do sol que os tetos de cimento ou telhas, mantendo a construção num ambiente agradável, além de ajudarem na preservação da fauna.
Sejam por tetos verdes, jardins verticais, ou outras arborizações, uma área urbana bem arborizada pode ficar até 3 graus centígrados mais fresca que uma região com cimento e asfalto puro.
O Jardim Walter Galera, não é aberto ao público desde a construção do heliponto, por questões de segurança.
Bibliografia e fontes:
- Campos, Candido Malta – Do classicismo moderno à tradição inventada: O palácio paulista – FAU / USP , 1999
- Amaral, Luiz – Os palacetes do Anhangabaú – SP (netleland), 2013
- Wiki – Edifício Matarazzo
- Imagens – Acervo Pessoal, exceto as fotos históricas – Arquivo Histórico Municipal
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