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O “puxadinho” problemático do MASP

Este emblemático recurso  folclórico  ou “jetinho  brasileiro”, chamado “ puxadinho” está presente na cultura urbanística afetando desde um barraco de favela até Aeroportos pelo Brasil  afora.

Mas a construção do anexo do MASP, se classificado como um “puxadinho” é o mais problemático de todos, inclusive superando  aqueles vergonhosos que foram construídos no aeroporto de Cumbica. É uma novela de 7 anos.

Visto inicialmente como um projeto para ajudar as finanças do MASP, ele coleciona vasta polêmica envolvendo a Prefeitura, a Vivo, órgãos de defesa de patrimônio, Camara de Vereadores e outras organizações civis.

A história começa em 2004/2005  quando a operadora Vivo comprou  o prédio Dumont Adams ao lado do MASP, para o museu por R$ 12 milhões  e tinha planos  de colocar  o seu logotipo no alto de uma torre, de um projeto desenhado na ocasião.  “Masp Vivo” era o nome  do empreendimento.

Criada  pelo  arquiteto Júlio Neves, presidente  do Masp na ocasião,  a torre teria como  base o edificio  Dumont-Adams, abandonado e degradado, já que embora fosse de um estilo clássico dos anos 50, não era tombado. Este edifício fica  ao  lado do museu.

O conjunto completo MASP com Edif. Dumont Adams em seu estado de abandono e degradado

A torre inicialmente proposta abrigaria um  cibercafé e funcionaria  como um belvedere do qual seria  possível  avistar ate o mar já que a Av. Paulista supera as alturas da Serra do Mar, de acordo  com Neves.

Como seria a Torre MASP-VIVO, e os detalhes de sua ocupação.

A partir deste projeto inicial, uma intensa batalha se iniciou envolvendo os órgãos de defesa do Patrimonio.

O Masp  é tombado por órgãos do patrimônio histórico  nas três esferas: Iphan  (federal), Condephaat  (estadual)  e Conpresp (municipal). Por causa do  tombamento, qualquer  obra vizinha ao Prédio do museu  precisa  ser aprovada. O Condephaat  aprovou  a torre e o Iphan  considerou  que o projeto estava fora de sua  jurisdição (???).  Para a torre  ser construída, não poderia  haver  veto  de nenhuma  instância .

Eis então que foi vetada pelo Conpresp (Conselho Municipal  de Preservação  do Patrimônio Histórico, Cultural  e Ambiental), o órgão da prefeitura  responsável  pelo patrimônio histórico.  A construção  da torre, segundo a decisão,  interferiria no Masp  a ponto de descaracterizar  o prédio  do museu. O veto era de caráter definitivo.

Segundo o despacho de uma conselheira do Conpresp:

“Ao se criar um novo símbolo onde já existe outro, esse sim reconhecido e protegido legalmente pelo seu valor cultural, despertará  inevitável disputa que,  índependente da maior ou menor qualidade  arquitetônica de cada um  deles, resultará no enfraquecimento  do caráter simbólico de ambos.”

Será mesmo? Não seria o contrário, a exemplo do que acontece em outras grandes cidades internacionais, onde a concentração de marcos históricos e turísticos potencializa e não enfraquece o simbolismo e importância dos marcos?.

Curiosamente após esta decisão, uma esteira de conflitos ocorreram com o Conpresp, desde destituição de sua diretoria a conflitos entre executivo e legislativo, vereadores x prefeito,  CPI e muito mais que se alastram até os dias de hoje, conforme mostram os links abaixo.

Apesar das considerações de veto da Torre da Vivo, um edifício comercial foi construído no outro lado do MASP, sem qualquer problema, como mostra abaixo:

Este enorme edifício comercial (cor verde) foi erguido, no outro lado sem qualquer problema de impacto ao MASP. Não houve restrições dos orgãos de patrimônio

Abortado o projeto da torre, um novo projeto foi realizado e desta vez aprovado pelas instancias, mas a polêmica se virou ao Edifício Dumont Adams, já que a ideia principal é “encaixotar” todo o edifício com vidro, e acima dele construir  os espaços que iriam na antiga torre.

Antes disto os órgãos de defesa do patrimônio histórico que então  vetaram o mirante,  fizeram a Vivo e o Masp travar uma batalha na Justiça. Sem a torre, a telefônica queria de volta o dinheiro  desembolsado, mas em novembro 2009, chegaram a um acordo.

E em janeiro 2010  foi aprovada a captação de mais R$ 15 milhões pela Lei Rouanet para transformar o Dumont-Adams em Masp Vivo. Sem o mirante da discórdia, a empresa se contentou em batizar o espaço pelos próximos 25 anos.

No térreo, ficará uma galeria de exposições temporárias patrocinadas pela Vivo.

Também vai migrar para lá a área administrativa do museu. Os sete andares acima vão abrigar uma escola de pós-graduação em museologia, história da arte e restauro que o Masp deve criar.

Acima da laje original do edifício, um cubo branco,  deve receber outras mostras. No topo de tudo, farão um café, que já conta com um patrocínio de R$ 2 milhões da Nestlé.

As obras atuais sobre o Edificio Dumont Adams, elevando sua altura.

A expansão vertical do Edifício Dumont Adams terá sua altura aumentada e ficará em sintonia com os espigões  do entorno, e além disto ele será repaginado com uma “pele de vidro”.

Na prática está se pegando  um prédio abandonado e deteriorado e transformando num museu. Vai se ampliar o uso do museu, tendo como peso a marca do Masp.

E a Vivo também está de olho no peso desta  marca, pois já se comprometeu a doar mais R$ 3 milhões ao museu quando as obras terminarem, em 2013, para implantar mais “projetos de sinergia”, de acordo com o diretor de relações institucionais da empresa telefônica.

Entre as propostas que circulam, além de afixar a placa Masp Vivo, estão um sistema de visitas guiadas por celular, mostras de arte tecnológica feita com os aparelhos e até mesmo a exposição de obras do Masp na galeria da sede brasileira da Vivo, na zona sul da cidade.

Como deve ficar o novo projeto após conclusão das obras, e inauguração prevista para 2013

Entidades ainda lutam para preservar o Dumont Adams, com sua arquitetura original, sem a pele de vidro, mas pelo andar das obras, há um descrédito que isto ocorrerá.

Seja como for, e com todas as discussões a respeito, este “puxadinho” já se tornou muito famoso, tanto pelas confusões, tanto pelas cifras envolvidas. Pessoalmente estou com o Condephaat, e preferia a torre de 125 metros……


Links relacionados:

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Fonte: Wikis,Folha de SP, O Estado de SP, acervo pessoal

Updated: 26/09/2012 — 9:04 pm