Não é só o frio que atrai os milhões de turistas anuais que chegam a Campos do Jordão. O característico clima tem em sua decoração uma arquitetura ímpar, mesclando estilos puros com uma combinação extraordinária que faz a cidade ser única.
Há claras evidencias que estilos de construções europeias foram introduzidos na cidade ainda quando a cidade se prestava a cura de doentes quando empresários e industriais construíram suas casas para abrigar seus doentes, ao invés de deixá-los nos vários sanatórios e pensões que existiam.
Isto ocorria porque a cidade em seus 1700 m de altitude média possuía um teor de oxigenação muito elevado, resultando num clima saudável para tratamento de problemas respiratórios, pulmonares, etc.
Mas os padrões arquitetônicos começaram a ser trazidos para o país após a 2ª grande guerra e no caso de Campos do Jordão intensificadas a partir do boom turístico dos anos 80, já que a cidade tinha deixado de longa data sua vocação de cura e estilos arquitetônicos europeus passaram a compor mais intensamente o mercado de construção local. Notadamente são estilos de países com clima intensamente frio.
Claro que se estabeleceu uma inevitável comparação com os Alpes suíços, fato que a sociedade local titulou e mantem há décadas como sendo a Suíça Brasileira. É comum ver várias construções de “chalés suíços”, que são modelos de casas de campo erguidas em madeira nos Alpes daquele país, pois sua maior característica são telhados agudos e com beirais vem avançados. Em seus países de origem este tipo de telhado destina-se a não permitir acumulo de neve. Este tipo de construção evoluiu localmente com a mistura de alvenaria normalmente em dois pavimentos com sacadas ou pórticos frontais e ornamentos em madeira variados.
Mas o estilo que mais marca a cidade é o germânico e/ou normando. O estilo normando é o que está presente em construções que usam elementos comuns à arquitetura típica da região da Normandia, na França. As casas exibem na fachada o enxaimel, ou seja, o conjunto de estacas e caibros. O Enxaimel, ou Fachwerk (originário de “Fach” assim denominavam o espaço preenchido com material entrelaçado de uma parede feita de caibros), é uma técnica de construção que consiste em paredes montadas com hastes de madeira encaixadas entre si em posições horizontais, verticais ou diagonais, em que seus espaços são preenchidos geralmente por pedras ou tijolos e demais alvenarias comuns ao local onde ela é aplicada. Os tirantes de suas várias combinações de madeira dão estilo e beleza às construções do gênero, produzindo um caráter estético privilegiado. Há em Campos do Jordão inúmeras construções que são enxaimel puro ou imitam o estilo(neoxaimel). Desde habitações comuns à imóveis comerciais fazem uso do estilo amplamente. No bairro turístico do Capivari estes estilos são bastante combinados, mas distribuem-se também por toda a cidade.
Ainda que normalmente se faça uma ligação natural entre o estilo enxaimel e a Alemanha, na verdade é que o estilo não possui uma origem adequadamente determinada. Embora seu desenvolvimento maior tenha sido, sim, na Alemanha e regiões vizinhas, especialmente no período renascentista. Sabe-se que o povo etrusco, habitante da região da península itálica, já praticava a técnica no século VI a.C.., portanto trata-se de um estilo de construção bem antigo. Ele está presente em várias regiões europeias e no Brasil notadamente em regiões serranas.
Quando os primeiros alemães chegaram ao Brasil, a arquitetura enxaimel já não era utilizada havia muito tempo, mas foi considerada a mais adequada para as condições encontradas em São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais. Normalmente no Brasil, as casas no estilo enxaimel são atrações turísticas nestas regiões.
É claro que estes e outros estilos de construção tem muito haver com imigrantes de origem europeia e isto se manifesta bem em Campos de Jordão compondo o visual urbano da cidade.
Importante salientar que este estilo de construção embora bem antigo ainda está muito presente no sul da Alemanha, norte da França e na Inglaterra, razão pela qual cidades brasileiras que a utilizam remetem a um ambiente bem europeu.
Em Campos do Jordão, logo na entrada da cidade há um portal receptivo que consegue misturar os dois estilos, os telhados agudos com grande caimento suíços e o enxaimel (neoxaimel) mostrando logo na entrada o que se verá em toda a planta urbana da cidade.
Há muito deles por toda a cidade mas grandes concentrações são observadas nos bairros da Abernessia e Jaguaribe, local de fundação da cidade.
Há outros estilos presentes na cidade como o inglês, cuja maior característica são casas ou construções de tijolos expostos tratados. O estilo toscano também presente, motivado por razões de italianos que fizerem suas residências de inverno por aqui, ou que abriram negócios para aproveitar o potencial da cidade.
Mas há uma grande transformação na cidade que acontece pela mistura de todos os estilos, que marcam locais ou regiões inteiras pela criatividade e uso de conceitos de várias origens.
Conta-se que o falecido arquiteto ítalo-paulistano, Jorge Wilheim em uma conversa com José Roberto Damas Cintra, renomado arquiteto jordanense autor de vários projetos pela cidade, disse: “Campos do Jordão não tem um estilo definido, tem um jeitão” Definições genéricas como estilo alpino ou suíço não encerram o assunto referente ao estilo arquitetônico da cidade.
Fato é que, Campos do Jordão reúne uma variada mistura de padrões arquitetônicos trazidos de fora do país a partir da segunda metade do século passado e intensificada no boom turístico onde a inspiração maior passa a ser pela arquitetura de países de clima frio.
Muito interessante essa descrição dos diversos estilos. Uma questão : existe alguma lei que restrinja ou incentive um certo padrão arquitetônico, para que a cidade não corra o risco de se descaracterizar como acontece com outras cidades pelo Brasil ? Ou toda essa beleza arquitetônica é, até hoje, apenas fruto da vontade dos proprietários?
Caro Amaral, estive em Campos do Jordão 2 vezes com diferença de 40 anos e adorei as minhas estadas lá.
Realmente é uma belíssima cidade.
Parabéns pelo belo trabalho!
Abraços, Alan
Ótima reportagem! Não conheço ainda Campos de Jordão e fiquei com mais vontade ainda de conhecê-la. Linda cidade!
Bjs, Vera
Obrigado pelo comentário, Vera.
Venha sim. Quando puder venha conhece-la. Vc vai gostar da cidade.
Um abração !
Amaral
Depois que saí do Rio, fui morar em São Bento do Sapucaí, cidade ali pertinho de Campos do Jordão. Aliás, Campos já foi parte de São Bento.
Como tive oportunidade de visitar esta cidade várias vezes, fico feliz pelo belo trabalho do Amaral em reunir e publicar estas importantes informações.
Parabéns Amaral.
José Rubens de Paiva Renó
Que matéria. Este assunto de tipo de arquitetura da cidade sempre foi polêmico. Você deu um show de explicação e definiu que a arquitetura da cidade é Lavosier, tudo se transforma. Abs, Antonio Martinelli
Uau, que imagens cara. Linda cidade, Valeu – San
Execelente matéria meu grande amigo Amaral.
Parabéns!
Valeu José Rubens ! Obrigado, Amaral
Lindo Amaral. Abração
Pimenta
Muito interessante essa descrição dos diversos estilos. Uma questão : existe alguma lei que restrinja ou incentive um certo padrão arquitetônico, para que a cidade não corra o risco de se descaracterizar como acontece com outras cidades pelo Brasil ? Ou toda essa beleza arquitetônica é, até hoje, apenas fruto da vontade dos proprietários?