Nome complicado e tão extenso quando sua história, este é o nome de um ícone, a Kombi que há dois anos deixou de ser produzida. Aliás o nome Kombi é usado apenas no Brasil e no México onde o K é trocado pelo C, portanto Combi. Em Portugal, a perua é chamada de Pão de Forma. Na Alemanha, é Bulli, nos Estados Unidos, Bus e na Polônia, Papuga.
O palavrão Kombinationfarhzeug, numa versão mais básica tem tradução como “veículo combinado” ou “combinação do espaço para carga e passeio”.
Sua origem remonta na Alemanha no final dos anos 1940, após turbulenta adequação da Alemanha do pós guerra e o dia do nascimento da Kombi pode ser considerado em 23 de abril de 1947. Foi quando o holandês Ben Pon, então um revendedor da marca VW em seu país, rascunhou o primeiro esboço de um veículo comercial de médio porte e baixo custo, com a exata configuração que viria ser a base da Kombi poucos anos mais tarde. Ben Pon imaginava a criação de um veículo multiuso que pretendia usar o conjunto mecânico do Fusca em um veículo leve de carga e de passeio.
A ideia de Pon virou realidade saindo do papel no dia 8 de março de 1950, quando a primeira Kombi ganhou as ruas. Apos isto a Kombi foi para vários países com seus vários nomes e construiu histórias incríveis nas mãos de seus clientes e admiradores.
A Kombi passou a ser montada no Brasil em 23 de março de 1953, motivada pelo sucesso de vendas do modelo na Europa e por aqui. A primeira linha foi em regime CKD, onde as peças chegavam prontas da Alemanha e eram montadas num galpão no bairro do Ipiranga, Zona Sul de São Paulo, que seria a preparação para, enfim, produzi-la na numa planta fabril em São Bernardo do Campo. Foi a primeira fábrica da empresa fora da Alemanha e passaria a produzir a partir de 2 de setembro de 1957.
O modelo original de introdução no Brasil, seguiu sem grandes alterações estéticas até 1975, quando foram adotas as mudanças visuais empregadas na segunda geração do modelo alemão. Saiu de cena a cara “corujinha” e o para-brisa bipartido, enquanto faróis, piscas, lanternas e para-choques foram redesenhados. Portas ficaram maiores e janelas passaram a abrir e fechar por manivela, verticalmente, e não mais manualmente, na horizontal.
Já defasada dos modelos alemães de 2ª, 3ª e 4ª geração em 1992, “nossa” Kombi ficou praticamente igual de 1975 até 1997, quando por conta de uma nova legislação ambiental, a perua ganhou injeção eletrônica, em substituição ao carburador e em 2006, o utilitário escreveu outra página importante de sua história no Brasil, quando o motor refrigerado a ar foi substituído por um 1.4 a água, que exigiu a instalação de um radiador na frente do carro.
O Brasil era desde 1996 o único fabricante do veículo em todo o mundo, já que neste ano, o México desativara sua linha de produção e o modelo fabricado no País é a segunda geração da Kombi, por tanto bem ultrapassado considerando as gerações do modelo na Alemanha, cuja última geração (5ª) foi aposentada em 1979. Isto ocorreu desta forma, em parte pela durabilidade da plataforma do fusca no Brasil, que ainda gerou outros veículos nesta base, como o Brasília, a volta do próprio Fusca na era Itamar, montadoras de outras marcas que usavam a mesma plataforma, etc.
Mas desafio maior da Kombi vinha da própria legislação brasileira que colocaria a Kombi brasileira numa rota de “aposentadoria”: a obrigatoriedade de air bags e ABS em todos os carros do Brasil a partir de janeiro de 2014.
Para evitar a morte dessa “velha senhora” de 63 anos, em 2010 a Volks designou um engenheiro alemão, Dietmar Schmitz, diretor de desenvolvimento de veículos comerciais que trabalhava na sede da empresa, em Wolfsburg, na Alemanha, para achar alguma solução de colocar os freios ABS e o air bag na Kombi brasileira. Ele considerou que esse era um dos pedidos mais estranhos de toda sua carreira de engenheiro.
Estranho, desafiador e difícil, já que Schmitz não foi bem sucedido nessa tarefa, pois um de seus desafios era achar um espaço no eixo dianteiro do carro para colocar os sensores que enviariam a um computador central a mensagem para abrir o air bag em caso de colisão. As complicações para os freios ABS não seriam muito diferentes, e nada pode ser feito o que fez a VWB decretar, por fim, a aposentadoria da “Velha Senhora”.
Várias histórias, usos, as transformações e algumas imagens da velha senhora Kombi
Como disse na ocasião José Roberto Ferro, presidente e fundador do LEAN INSTITUTE BRASIL:
“O final do ciclo de vida do produto automotivo mais longevo do Brasil e um dos mais longos no mundo nos faz pensar sobre o que faz um produto ter sucesso.
Como foi possível um produto com um design antigo, com sérios problemas de segurança, estabilidade, baixo conforto, alto nível de ruído, entre outros itens graves, seguir por tanto tempo como um produto bem-sucedido?
Um produto só tem sucesso se conseguir agregar valor aos clientes ao longo de seu ciclo de vida. Produtos têm sucesso por um tempo e morrem. Ou são substituídos por outros ou suas próprias falhas acabam por minar seu bom desempenho.
A Kombi tem as suas virtudes. Sua simplicidade com acabamento espartano, fácil manutenção por ter grande parte de suas peças compartilhadas com o fusca, que esteve em produção também por muitas décadas e em altos volumes, a flexibilidade de ser usada para transporte de carga e passageiros com mudanças simples e fáceis de serem executadas na retirada ou colocação dos bancos traseiros, o bom valor e facilidade na revenda são alguns dos fatores objetivos que têm garantido um bom mercado e mantido esse veículo em produção por tanto tempo.
Assim, não deixa de ser impressionante como o primeiro veículo a ser produzido em massa no Brasil, a Kombi, desde 1957, continuou sendo produzido, com algumas melhorias, ao longo de 56 anos. Nesse período, foram produzidas mais de 1.560.000 unidades na fábrica da Volks de São Bernardo do Campo, na grande São Paulo, tornando-o um dos veículos de maior volume de produção da história do país”.
As principais campanhas publicitárias da Kombi
Mas há pontos positivos no quesito inovação: Foi o único veículo com produção em série que já fez uso de todas as configurações de combustíveis permitidas pela lei: gasolina, álcool, diesel, flex e até gás natural. A Kombi já foi furgão, picape cabine simples e dupla, veículo para transporte de passageiros, já teve duas, quatro ou seis portas e até tração 4X4, como configurações normais de fábrica. Com customizações de terceiros há várias versões também.
Já com relação às inúmeras utilizações, ela é suprema. A Kombi já foi táxi, casa, escritório, sede de clube, loja, objeto de arte, furgão hippie, motor home, cozinha para pastel, caldo de cana, além de dentista, cinema, quitanda, tapeçaria, sorveteria, dragster, cama, vendedora de produtos de limpeza, carro de som, food truks dos mais diversos, astro do cinema, perua escolar, entre tantas outras.
Mas pelos motivos já mencionados em 31 de Dezembro de 2013, encerrou-se a saga brasileira da Kombi, que além de um legado de milhões de histórias, de alegrias dos entusiastas, seu fim deixou aproximadamente mil desempregados e completa dois anos mantendo-se como ícone, como um cult ainda mais admirado e usado, valorizado em seu valor, e nas suas diversidades de uso. Um exemplo claro disto é que elas ainda estão aos milhões rodando pelas nossas cidades e no campo nas mais variadas atividades, e tornando o Brasil como oficina de restauração dos apaixonados europeus por Kombis. Os colecionadores as disputam, como neste exemplo do tradicional leilão de carros clássicos “Barrett Jackson” cujo valor de abertura foi de US$ 10.000 sendo arrematado por US$ 198.000:
A VWB reconhecendo a importância e história da Kombi, lançou uma edição especial ao final da produção em 2013 denominada de Last Edition com produção aumentada 600 para 1.200 unidades devido ao aumento da demanda da edição. A edição tinha pintura azul, com teto, colunas e para-choques brancos, uma faixa decorativa, também branca, que circundava todo o veículo logo abaixo da linha de “cintura”. Além disto as rodas e as calotas eram também em branco e a grade dianteira superior pintada na cor azul da carroceria, assim como as molduras das setas e aros dos faróis.
Nos pneus uma faixa branca dava um toque a mais de nostalgia ao modelo. Completava o toque de requinte nas laterais os adesivos que identificam a série especial: “56 anos – Kombi Last Edition”. E para coroar, um vídeo institucional de despedida, de “testamento” muito legal e emocionante feito pela agencia AlmapBBDO.
Até um dia especial foi criado que é o dia da Kombi na data de 02 de Setembro.
Vida longa para a Kombinationfarhzeug
Fontes:
- Vídeos © iCarros,AP-AE(globo.tv),Uol TV
- Imagens: Reprodução-portais G1, UOL, IG, Estadão, Folha, Acervo pessoal
obrigado pelo momento saudosista pois nosso primeiro carro foi uma kombi viajei no tempo meu amigo obrigado mais uma vez e me desculpa pois acho que lhe envie a materia de volta.
Luiz, muito interessante essa matéria.
Valeu! Abs,
Alan
Já foi tarde…