Um dos mais badalados museus de São Paulo dentre os mais de 100 que a cidade oferece, completou 71 anos em outubro último e em novembro sua sede modernista na Av. Paulista completou 50 anos. Ele junto com a Pinacoteca, Museu da língua portuguesa (em obras), museu do futebol e museu do Ipiranga (em obras), lideram o número de visitantes da vasta rede de museus que a capital e o estado de SP oferecem.
O Museu de Arte de São Paulo popularmente conhecido como MASP é um museu privado sem fins lucrativos, fundado em 1947 pelo empresário e mecenas Assis Chateaubriand (1892-1968), tornando-se o primeiro museu moderno no país.
Assis Chateaubriand dono do então grupo de mídia Diários Associados, convidou o crítico e marchand italiano Pietro Maria Bardi (1900-1999) para dirigir o MASP, e sua esposa Lina Bo Bardi (1914-1992) para desenvolver o projeto arquitetônico e expográfico.
Mais importante acervo de arte europeia do Hemisfério Sul, hoje a coleção do MASP reúne mais de 10 mil obras, incluindo pinturas, esculturas, objetos, fotografias, vídeos e vestuário de diversos períodos, abrangendo a produção europeia, africana, asiática e das Américas.
Inicialmente instalado na rua 7 de Abril, no centro da cidade, sede dos Diários Associados, em 1968 o museu foi transferido para a atual sede na avenida Paulista, no icônico projeto de Lina Bo Bardi, que se tornou um marco na história da arquitetura do século 20. Com base no uso do vidro e do concreto, Lina Bo Bardi concilia em sua arquitetura as superfícies ásperas e sem acabamentos com leveza, transparência e suspensão. A esplanada sob o edifício, conhecida como “vão livre”, foi pensada como uma praça para uso da população. Tornou-se um símbolo de São Paulo e também do Brasil quando se destaca qualidades culturais e arquitetônicas.
A radicalidade da arquiteta também se faz presente nos cavaletes de cristal, criados para expor a coleção no segundo andar do edifício. Ao retirar as obras das paredes, os cavaletes questionam o tradicional modelo de museu europeu, no qual o espectador é levado a seguir uma narrativa linear sugerida pela ordem e disposição das obras nas salas. No espaço amplo da pinacoteca do MASP, a expografia suspensa e transparente permite ao público um convívio mais próximo com o acervo uma vez que ele pode escolher o seu percurso entre as obras, contorná-las e visualizar o seu verso onde as informações importantes de cada obra se situam. Dá ao visitante uma forma de labirinto que parece não ter fim.
Além da mostra de longa duração de seu Acervo em transformação na pinacoteca do museu, realiza-se ao longo do ano uma ampla programação de exposições coletivas e individuais. Toda essa aproximação reflete a nova missão do museu, estabelecida em 2017: “O MASP, museu diverso, inclusivo e plural, tem a missão de estabelecer, de maneira crítica e criativa, diálogos entre passado e presente, culturas e territórios, a partir das artes visuais. Para tanto, deve ampliar, preservar, pesquisar e difundir seu acervo, bem como promover o encontro entre públicos e arte por meio de experiências transformadoras e acolhedoras”.
O calendário de exposições é complementado pelos programas públicos desenvolvidos pelo núcleo de mediação e inclui seminários internacionais, palestras realizadas mensalmente no primeiro sábado de cada mês, o programa MASP professores, oficinas, cursos no MASP escola e programação de filmes e vídeos. Para ampliar e perenizar a discussão em torno de toda essa programação, o museu edita uma série de publicações incluindo catálogos das exposições, dos acervos, e antologias dos seminários e palestras, bem como de projetos especiais como restauros de obras.
Lá nos distantes anos 60 do século passado, momento em que se intensificava a verticalização da avenida Paulista com a construção de grandes prédios comerciais, sede de corporações, empresas e bancos, a grande novidade na paisagem que “quebrava” o skyline” da avenida foi a construção do Museu de Arte de São Paulo (MASP), projeto da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi .
A data oficial da transferência do museu do centro para a avenida Paulista ocorreu no dia 7 de novembro de 1968. O projeto de Lina manteve a vista para o centro, pela Avenida Nove de Julho do antigo Belvedere criando entre a parte suspensa e as dependências subterrâneas do museu uma grande esplanada, uma grande praça que abraça o Vão Livre de 70 metros de comprimento. A obra do MASP iniciada em 1958, levou 10 anos para ser concluída
Um seminário de um dia que aconteceu em 05 de Novembro e contou com apresentações de arquitetos, historiadores e curadores nacionais e estrangeiros que discutiram a história do edifício, sua concepção e seus usos nos últimos anos.
Também se apresentou diálogos entre arquitetos e engenheiros que trabalharam com Lina na construção do prédio e, além disso, fotógrafas que realizaram ensaios inéditos sobre o prédio. As imagens serão publicadas, junto aos artigos dos palestrantes e outros materiais, em um catálogo com previsão de lançamento para abril de 2019.
O seminário e livro antecedem a exposição “Lina Bo Bardi: Habitat” que o MASP realizará em parceria com o Museu Jumex (México) e o MCA Chicago (EUA), em 2019, ano que o museu se dedicará ao eixo curatorial histórias das mulheres, histórias feministas.
Uma outra grande novidade é que o MASP obteve aporte do programa Keeping It Modern, da Fundação Getty, cujo objetivo é desenvolver pesquisas voltadas à conversação de edifícios modernos no mundo. O objetivo do trabalho, completado ainda no ano de 2017, foi estabelecer um plano com diretrizes de conservação e manutenção permanente. Esta pesquisa e seus detalhamentos inéditos trouxeram informações que permitem, a partir de agora, atuar com maior segurança na preservação do prédio.
Na história da icônica construção vale destacar que foi com a presença ilustre da Rainha Elizabeth II e do Príncipe Philip que o novo prédio do Museu de Arte de São Paulo foi inaugurado, em 7 de novembro de 1968, que claro teve a presença dos fundadores do museu, Assis Chateaubriand e Pietro Maria Bardi, ao lado de Lina Bo Bardi, arquiteta ítalo-brasileira responsável pelo prédio e esposa de Pietro, e do então prefeito da cidade, Faria Lima.
Participavam também do ato a pintora nipo-brasileira Tomie Ohtake, que apresentou sua obra, em exposição na abertura do museu, à monarca inglesa. O encontro, registrado numa fotografia, gerou grande orgulho para a artista. “Ela mandou a fotografia para todos os parentes no Japão, que não acreditavam que ela fosse uma pintora conhecida”, conta, aos risos, um dos filhos de Tomie, o arquiteto Ricardo Ohtake, que hoje dirige o Instituto que leva o nome da mãe, em São Paulo. O MASP da Avenida paulista tem inúmeras histórias nestes 50 anos, além claro de seu grande acervo e as grandes exposições.
Um dos mais destacados cartões postais de São Paulo, o prédio do Masp se tornou um ponto de encontro. A qualquer hora do dia, o Vão Livre recebe amigos, casais, feirantes, mendigos, poetas, músicos, manifestações políticas, exposições, etc. É uma “arquitetura democrática”, como define Marcelo Ferraz, arquiteto que trabalhou com Bardi durante muitos anos. “É acessível, convidativo, faz com que as pessoas se sintam donas do lugar.” O curador-chefe do Masp, Adriano Pedrosa, concorda. “É a vocação do edifício.”
Ousadia e dedicação de Lina Bo Bardi para o projeto do Masp vem desde o princípio. O museu já funcionava desde 1947 num prédio na Rua Sete de Abril, no Centro de São Paulo. Foi brevemente para a Fundação Armando Álvares Penteado na década de 1950. Mas, com um acervo cada vez maior, Pietro Bardi e Assis Chateaubriand optaram por construir uma sede própria, para garantir a expansão e melhor conforto para as obras e visitantes.
A Prefeitura de São Paulo doou o terreno do Belvedere Trianon (projetado por Ramos de Azevedo) para a construção do MASP. Não por acaso, Lina teve papel fundamental nesse movimento. “Ela articulou a cessão do terreno e participou intensamente das negociações”, afirmara Toledo, um dos curadores de uma exposição sobre a arquiteta que vai passar pelo exterior no ano que vem. Lina Bo Bardi fez outros edifícios icônicos como o Sesc Pompeia, em São Paulo, e o Museu de Arte Moderna da Bahia, mas o prédio do Masp figura entre suas mais grandiosas obras. A ideia do Vão Livre, com vista para a Avenida 9 de Julho, é, talvez, a parte mais marcante da construção, cujo trabalho de engenharia dos pilares de sustentação ficou a cargo do engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz, ex-prefeito de São Paulo.
“Aquelas vigas foram uma solução bastante engenhosa, vencer aquele vão exigiu um cálculo especial e um material de resistência, para manter de pé”, opina Ricardo Ohtake. O processo de construção não foi fácil, segundo Marcelo Ferraz. “Foram inúmeras dificuldades. O projeto começou em 1958, ficou parado entre 1961 e 1965, e teve problemas nas ferragens e vigas”, afirma. “Mas ela levou a ideia de criar um museu de arte contemporânea às últimas consequências”.
Algumas curiosidades do MASP na Avenida Paulista:
- O museu que é detentor do mais importante acervo da América Latina, em 2006, chegou a ter o seu fornecimento de energia cortado por 3 dias por causa de uma dívida de 3,5 milhões de reais a fornecedora de energia Eletropaulo. O abastecimento só foi restabelecido após um acordo onde o museu se comprometeu a pagar seu débito em 48 prestações. No momento da escuridão o museu acabava de inaugurar uma mostra do impressionista francês Edgar Degas ( 1834-1917). Além disto a exposição também trazia empréstimos de museus como o Metropolitan de N.York e o D’ Orsay, de Paris. Geradores tiveram que ser acionados para a preservação de obras de arte. Embora esses geradores tivessem sido ligados, a simples possibilidade de que isso acontecesse e por uma razão tão patética quanto a falta de pagamento de uma conta de luz, causou danos na reputação do MASP e dos museus brasileiros em geral. Não bastasse isto, além do atraso das contas de luz, uma ação judicial movida pelo INSS exigindo o pagamento de 3 milhões de reais dificultava a obtenção de recursos da lei de incentivo á cultura e por conta disto um quadro de 4 milhões de reais teve que ser dado em juízo como garantia. Um ano antes o museu deixara de receber mais da metade da verba de 1,6 milhão de reais da prefeitura por não ter apresentado planos de gastos. Com a reputação afetada o número de visitantes também teve queda.
- Além de ser o principal museu da América Latina, considerado o mais importante museu de arte ocidental do Hemisfério Sul, primeiro museu de arte moderna do Brasil, tem seu acervo tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), desde 1969.
- Integra o “Clube dos 19”, dos quais participam apenas os museus que possuem os acervos de arte europeia mais representativo do século 19. Está ao lado de museus como o Museu d´Orsay de Paris, Metropolitan Museum de Nova York, The Art Institute of Chicago, Museum of Fine Arts de Boston, Van Gogh Museum de Amsterdã, a Kunstaus de Zurique, Hermitage de St. Petersburg, a Galleria Nazionale d´Arte Moderna de Roma e National Gallery e Tate Gallery de Londres.
- A maior parte das pessoas acham que o museu é apenas os dois andares do piso sobre a Av. Paulista, mas o museu se estende a 3 níveis de subsolo abaixo da avenida, com uma área de exposição até maior que os pisos envidraçados.
- Que em 2007 o museu teve duas obras roubadas um quadro de Pablo Picasso e outro de Candido Portinari, recuperadas intactas pela polícia com a devida prisão dos ladrões. Portal G1 elaborou até um HQ sobre o maior furto ocorrido em museu.(Veja aqui).
- Poucos também ficam desatentos ou desconhecem, que sob o museu passam dois tuneis de aproximadamente 1 km, por onde está a Av. 9 de julho que liga o centro da cidade a zona Sul.
- Que as colunas vermelhas eram uma solução que estava na história do edifício. Segundo a arquiteta, a idéia de utilizar o vermelho era antiga (como indica um croqui provavelmente do final da década de 1950) e a cor aparece em alguns elementos do projeto arquitetônico. Em linhas gerais, a imprensa noticiou: “Se o projeto de Lina Bo Bardi já se mostrava arrojado em 68, quando o Museu de Arte de São Paulo foi inaugurado, o impacto seria ainda maior se as quatro grandes vigas de sustentação ostentassem cor vermelha como agora. Esta idéia original e vanguardista da arquiteta foi retomada para resolver problemas de infiltração que persistiam. Como lembra o arquiteto Marcelo Ferraz, da equipe de Lina, a pintura cumpriria dupla finalidade, ou seja, uma função técnica que somou-se ao efeito estético”. Contudo como cor original do projeto, ela foi descartada em 1968 sob suspeita que o regime militar a consideraria subversiva, afinal Lina, como se sabe, era comunista. De fato só após 5 anos do regime militar ter deixado poder é que as colunas foram pintadas de vermelho numa parceria com a empresa de tintas Suvinil que acabou criando a cor “vermelho MASP” em 1990.
- Que o esqueleto ao lado do Museu erguido sobre o edifício Dumont Adams seria uma extenção do MASP, numa parceria com a Telefônica. Hoje conhecido como VIVO-MASP Tower padece de várias demandas judiciais desde 2005 e já foi matéria do blog (veja aqui)
Veja também: Do Belvedere ao MASP (ATENÇÃO, NAVEGAÇÃO DENTRO DE UMA JANELA)
Com esse histórico e com suas qualidades o aniversariante MASP, cumpre o que há de melhor na produção de um museu de arte. Parabéns MASP !!