Nessie, de Plesiossauro a enguia…

O famoso e mitológico monstro escocês do Lago Ness voltou a ser notícia recentemente. Esta história que vem sendo explorada há séculos hora com realidades, hora com fraudes parece estar diante de um desenlace final graças a mais um trabalho de pesquisadores ocorrido em 2018.

As histórias de um monstro que habita o Lago Ness datam de mais de 1.500 anos. Nenhum deles, no entanto, descreveu uma criatura serpentina de pescoço longo até a década de 1930. Lá nos anos 500 D.C., Nessie era uma criatura assassina que os locais chamavam de Kelpie, que seduzia frequentadores a andar de costas pelo campo escocês, apenas para depois mergulhá-los no lago e comê-los.

A primeira aparição rolou há vários séculos: a biografia do santo cristão São Columbano narra que, em 565 d.C., ele teria salvado um pescador das mandíbulas de um animal rastejante. O sucesso do resgate foi testemunhado das margens por vários fiéis, que viram Columbano berrar e fazer o sinal da cruz antes de enxotar o predador para as profundezas

Comentada desde o século 6, a lendária criatura de aparência pré-histórica é atração na Escócia e, apesar dos supostos flagrantes, nunca foi capturada. A história produziu por séculos inúmeros relatos até que em 1933, o Sr. e a Sra. Mackay estavam dirigindo pelo Loch Ness quando a sra. Mackay relatou a um repórter local que viu uma grande fera espirrando no centro do lago. A história instantaneamente se tornou manchete no Inverness Courier (periódico local) e instigou a era moderna dos avistamentos do monstro de Loch Ness.

Então, em 1934, o repórter do Daily Mail, Marmaduke Wetherell usando um fake name de cirurgião Robert Wilson tirou a famosa “Foto do Cirurgião” de Nessie. Ele mostra uma cabeça pequena e um pescoço longo saindo da água. A teoria do plesiossauro nasceu alí e moldou dramaticamente testemunhos subsequentes. Christian Spurling, amigo íntimo de Wilson, admitiu que a foto era uma farsa pouco antes de sua morte em 1994. Spurling ajudou o então “Dr.Wilson” a esculpir a figura que estava anexada a um submarino de brinquedo para a foto.

Mas a crença no monstro fizeram supor que Spurling tivesse mentido sobre seu papel em perpetrar essa farsa. Talvez fosse um retrato plesiossauro legítimo.

É, mas não é provável. Em 2006, Leslie Noe publicou um artigo na New Scientist intitulado “Por que o monstro do Lago Ness não é um plesiossauro”. Neste artigo, Noe escreveu “A osteologia do pescoço torna absolutamente certo que o plesiossauro não conseguiu erguer a cabeça como um cisne para fora da água”. Portanto, todo esse ângulo do plesiossauro foi baseado em uma farsa confessada e não é suportado pela ciência.

Além disso, conclui, os plesiossauros eram provavelmente criaturas de sangue frio que viviam em águas tropicais. A temperatura média do Loch Ness é de aproximadamente 5º C. Mesmo que os plesiossauros tivessem sangue quente , eles precisariam de mais comida do que o Loch Ness pode fornecer. Observe que eu disse “eles”. O suprimento de alimentos do lago inclui salmão, truta marinha, truta marrom, lúcio, enguia, carvão, lampreia, stickleback, esturjão e linguado, bastante comida para apoiar um dinossauro aquático, mas não para muitos. Aqui está a questão, a ciência demonstrou que pelo menos 30 plesiossauros seriam necessários para sustentar uma colônia viável ao longo deste tempo todo, e o que o lago oferece não é suficiente para uma grande família Nessie.

Mas é fato que estamos procurando o monstro do Lago Ness há séculos. Em algum lugar nas ondas do imenso Lago Ness, nas Terras Altas da Escócia, onde há mais água do que todos os outros lagos da Inglaterra, Escócia e País de Gales juntos, alguma criatura misteriosa espreita. 

Embora tenha havido mais de 1.000 avistamentos relatados da besta que eles chamam de Nessie, nenhum estudo científico produziu nenhuma evidência sólida até agora. Mas isso não impediu uma equipe de pesquisadores de embarcar em uma grande missão para encontrar Nessie usando uma técnica científica chamada coleta de DNA ambiental, ou eDNA.

Ano passado, os cientistas vasculharam Loch Ness para encontrar vestígios de pelos, escamas e fezes, de peixes, mamíferos ou outros seres antigos nadando no lago, que contenham o DNA do animal. Eles coletaram amostras de água, sequenciaram o DNA e determinaram, de uma vez por todas, quais espécies vivem nas águas estranhas do famoso lago.

E se tem uma resposta. Acontece que o monstro do Lago Ness se parece mais com uma enguia, provavelmente enorme.

“Existe uma quantidade muito significativa de DNA de enguia”, disse o pesquisador Neil Gemmell, geneticista da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, em comunicado à imprensa. Depois que ele e seus colegas cientistas do Reino Unido, Dinamarca, EUA, Austrália e França analisaram cerca de 500 milhões de seqüências de 250 amostras de água e 3.000 espécies, e eles não conseguiram encontrar nenhum vestígio de DNA de tubarão, peixe-gato ou esturjão ou, qualquer espécie de dinossauro da era jurássica ou outra qualquer.

“Não encontramos nenhuma evidência de uma criatura que esteja remotamente relacionada a isso em nossos dados de seqüência de eDNA “, disse Gemmell.

“Nossos dados não revelam seu tamanho, mas a grande quantidade de material diz que não podemos descartar a possibilidade de que haja enguias gigantes em Loch Ness”, disse ele.

Isso na verdade coincide com o que pensamos há muito tempo à espreita no lago. Em 1933, o ano da primeira aparição que capturou a atenção do mundo, uma manchete do Daily Mirror dizia:

“ O Monstro do Lago Ness – Oficial! Ordena que ninguém a ataque … Uma enguia enorme? ” Desde a aparição, mergulhadores alegaram que viram enguias tão grossas quanto suas pernas no lago ”e até de 13 pés”, disse Gemmell.

É claro que, com 100% de certeza, os cientistas não podem dizer que Nessie é uma enguia, no entanto, eles têm boas razões para pensar assim. Então, provavelmente, Nessie como um plesiossauro nada mais será do que uma repetição da história sobre o rosto em Marte. Lembram dessa?

Uma enguia gigante colabora com retratos falados que fizeram alguns peritos pensarem o monstro como um espécime de elo perdido no tempo ou atípico da região em alguma mutação. Em 1968, o cientista Frank Holiday alegou ser de um verme aquático, o Tullimonstrum gregarium, que em seu tamanho normal  é muito pequeno para ser observado com o tamanho de Nessie. Aqueles que especulam ser um plesiossauro conservado pela última era glacial, tinham como fato uma ossada de plesiossauro com 65 milhões de anos de idade foi encontrada em 2003 por um homem nas margens do lago.

E mais, neste mês a evidencia da existência de uma enguia foi sustentada por imagens do que parece ser uma enguia grande flutuando acima do leito da água.

O vídeo foi compartilhado on-line pelo Ness Fishery Board, que twittou: ‘Vamos ser honestos, quando você vê um objeto grande em forma de enguia passando por sua câmera no rio Ness, a primeira coisa que você pensa é no monstro do Lago Ness’. Esta câmera subaquática capturou o contorno fraco de uma criatura fina e esbelta que passava pelas águas turvas do lago, 37 quilômetros a sudoeste de Inverness, conforme mostrado abaixo, convertido em imagens para melhorar a visualização:

Já Gemmell afirmara então, que o estudo acabaria por fornecer um banco de dados publicamente disponível de todas as espécies no lago, o que poderia ajudar a avaliar as mudanças na biodiversidade e o impacto de espécies invasoras, como o salmão rosa. Descobrimos que todas as espécies que conhecemos são residentes no Lago Ness.

No entanto, ele negou ter matado totalmente a lenda do monstro do Lago Ness. “Ainda há algum nível de incerteza lá, portanto há a oportunidade das pessoas acreditarem em monstros. Isso será um alívio para a indústria do turismo, que vive nas margens do lago desde os primeiros avistamentos, na medida que, nas proximidades, pode-se apoiar duas atrações concorrentes do Lago Ness, Nessieland e o Loch Ness Center and Exhibition, já mencionados neste blog aqui.

Uma grande criatura capturada por um visitante no lago de Loch Ness, faz acreditar nos recentes estudos que Nessie é uma enguia gigante (The Daily Mail)
De qualquer maneira o estudo do eDNA provou ser uma ferramenta inestimável para os biólogos desde que foi desenvolvido na década de 1990. Foi usado para examinar a distribuição de espécies que não estão mais presentes em uma área, mas cujos traços genéticos ainda são preservados em sedimentos.

Os estudos de eDNA também foram utilizados na busca de espécies que raramente são vistas por pessoas e, em alguns casos, nunca são vistas. Um estudo de 2012 da água do mar do Báltico confirmou a presença de baleias-piloto de barbatanas longas na área, uma espécie não vista pelas pessoas durante o período coberto pelo estudo e geralmente considerada um visitante extremamente raro por lá.

Mais notável é um estudo de 2018 sobre o eDNA coletado das águas marinhas do arquipélago da Nova Caledônia, no sudoeste do Pacífico. Isso revelou a presença de seis espécies de tubarões que não foram capturadas através de técnicas de amostragem mais convencionais, como observação a longo prazo e o uso de locais de iscas configuradas com câmeras automáticas.

É duvidoso que algum dos cientistas envolvidos nesses vários projetos de eDNA já tenha considerado a aplicabilidade desse trabalho à busca de monstros do lago, mas é com esse registro de sucessos baseados em eDNA que Gemmell e equipe anunciaram os resultados de sugerir Nessie como sendo uma grande enguia.

Embora tenha havido mais de 1.000 avistamentos relatados do monstro que eles chamam de Nessie, nenhum estudo científico produziu nenhuma evidência sólida até agora, como o resultado do trabalho com eDNA do pesquisador Neil Gemmell.

Fica portando mais fácil a crença de que Nessie está mais para uma enguia grande do que um curioso sobrevivente Plesiossauro.


Links relacionados:


Bibliografia/Fontes:

  • Frogge, Robert – Nessie Isn´t a Plesiosaur – Oath Huffpost, 23/05/2012 – Sunnyvale-USA
  • Lovato, Maria – There´s something slippery about Loch Ness Monster eel theory – The Boston Globe, 06/09/2019 – Boston USA
  • Naish, Dr Darren – Loch Ness Monster: how eDNA helps us discover what lurks beneath – BBC Science Focus, 05/09/2019 – London-UK
  • News, BBC – Loch Ness Monster may be a giant eel, say scientists, 05/09/2019 – BBC Scotland Highlands & Islands
  • Bennickle, Helen – Loch Ness Monster could be giant eel say scientists following analysis, 06/09/2019 – Manchester EveningNews UK
  • Weaver, Matthew – Loch Ness monster could be a giant eel, say scientists, 05/09/2019 – The Guardian, London-UK
  • Daniels, Nadrew – Study Reveals What the Loch Ness Monster May Be – 05/09/2019 – PopularMechanics, NY-USA
  • Elsom,Jack & Gordon, Amie & Robertson, Alexander – Is This the Loch Ness Monster? 18/09/2019 – Daily Mail, London UK

Updated: 18/09/2019 — 8:55 pm

3 Comments

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  1. Guilherme Junqueira de Almeida

    Curioso que os cientistas de mentes fechadas não explicam até hoje como que a imensa maioria dos locais onde costumeiramente se acham muitos fósseis de plesiossauros são justamente os locais onde tem tembém um altíssimo nivel de vizualizações dessas criaturas ainda vivas na categoria de criptídeos, como no norte da Escócia e na Patagônia argentina.

  2. Bom dia Amaral,
    Quanta estória a Nessie não rendeu hein ?
    Abração
    Pimenta

    c.pimenta@ig.com.br

    1. É verdade Pimenta. São mais de 1500 anos que Nessie “atormenta” a Escócia !
      Um abração a todos por aí!
      Amaral

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