“Não tenho história, nem raízes, sequer tenho laços com o passado. Com menos de trinta anos minha biografia é a mesma de milhões de jovens brasileiros, concebidos e criados na proveta do Milagre. Ao forjarem-nos para o futuro, esconderam-nos o passado. Na lógica da potência emergente, o Brasil começaria conosco.
Não fomos educados, mas programados. Ensinaram-nos o como sem mostrar-nos o porquê, Nunca nos coube questionar os objetivos; tão-somente nos prepararmos para eles.
Hoje, frutos dessa escola insana, onde a tecnologia substituiu a sabedoria, a parte prevaleceu sobre o todo e o bom senso não constou do currículo, somos nós que sofremos as consequências. Cá estamos, formados, educados, especialistas do nada para um todo que não houve.
O dia da glória não amanheceu nem para nós nem para a Pátria. Era um futuro místico; pois consequência de um milagre, um amanhã pentecostal, pois jamais aconteceria.
Perplexos, atônitos, só agora despertamos do sonho. De convictos navegantes, nos restou a condição de náufragos. Nossa nau desgarrou-se da História e vaga sem rumo pela década de oitenta. Triste destino o nosso: temos remos, mas não temos bússola, não sabemos para onde ir, pois ignoramos de onde viemos. Nossos pais, nossos tutores, sonharam com um desenvolvimento sem sacrifício; pagamos com um sacrifício sem desenvolvimento. Preferindo o conforto à liberdade, acabaram por privar-nos de ambos,
O que hoje transparece nos olhos dos jovens é o desejo de vasculhar o passado, conhecer as raízes, desvendar esse País tão diferente do demonstrado nas aulas de Moral e Cívica. E essa busca não é fácil.
Qual é a verdadeira história do Brasil? A dos bancos escolares, recheada de heróis equestres, datas cabalísticas e cenários de Pedro Américo? Ou uma outra mais intelectualizada, onde todos os fatos se encadeiam como uma trama de Agatha Christie?
Uma fala em grandes homens, como se a vontade de um único indivíduo pudesse mudar todo o enredo de um povo. A outra fala em poderosas forças, econômicas, sociais, que condicionam a história, transcendem os homens e os relegam à condição de meros figurantes de fundo de palco.
Entre uma e outra, nos quedamos nós, impotentes, sem encontrar em nenhuma, exemplos práticos que possam orientar sobre o futuro. Se não nascemos super-heróis nem influenciamos as super-forças, que papel nos resta senão o de simples espectadores?
Sobre o passado recente muito pouco sabemos. A cortina de fumaça sobre os fatos de nossa História torna-se mais e mais espessa à medida em que os interesses que neles se confrontaram ainda estão vivos e atuantes. O termômetro da poluição intelectual dá sinal de alerta quando entra em pauta a questão da participação popular na política brasileira, acentua-se na discussão sobre o populismo, atinge o insuportável no estudo do fenômeno Jânio Quadros”.
Este texto é o prólogo de João Mellão Neto em sua narrativa sobre Jânio Quadros: 3 Estórias para 1 história. Livro lançado em 1982 pouco tempo antes de Jânio assumir de novo a Prefeitura de São Paulo (1986).
O Ensaio proposto para tornar o texto atual é:
Substituir as palavras assinaladas de acôrdo com a sequência abaixo:
Milagre – substituir por economia estabilizada
Década de oitenta – trocar por século 21
Jânio Quadros – substituir por Lula/Dilma
Leia o texto novamente com estas alterações propostas, e verá rapidamente uma situação atual do cenário que vivemos.
O “tempero” é o mesmo, Jânio era populista (talvez o maior que o país já teve), amigo de ditadores, como Fidel Castro e Che. O Janismo como contam alguns historiadores era marcado por Empreguismo, Favoritismo e Corrupção, sempre com muito discurso sobre Justiça Social. Alguma similaridade com o Petismo e similares nos dias atuais ?