O pesado passeio de Ramos de Azevedo.

Que tal pegarmos um monumento de 202m², 24m de altura e um peso aproximado de 36 toneladas, e o transportarmos de uma avenida no centro de São Paulo até o Campus Butantã da USP a cerca de aproximadamente 18km?

Pois isto aconteceu em 1973, e o monumento em questão era o de homenagem a Ramos de Azevedo, honorável arquiteto que transformou São Paulo no início do Século 20.

Francisco de Paula Ramos de Azevedo, foi estudante de engenharia civil na Europa (Belgica) mas foi convencido a trocar de carreira e estudar arquitetura, onde se dedicou a arquitetura clássica, sendo muito influenciado posteriormente pelo ecletismo arquitetônico. Sofreu influências do Modernismo Art Nouveau de 1870 a 1910 e de Art Decô de 1910 até 1928 quando faleceu.

Começou a projetar grandes mansões a pedido da elite paulista e depois trabalhou para edificações públicas e privadas de vários tipos. Se transformou no principal influenciador da arquitetura de São Paulo e foi durante algumas décadas que, de seu escritório saíram praticamente todos os projetos residenciais da elite e os principais projetos de edifícios públicos da cidade.

Transformou a cidade de construções de estilo pobre e arcaico numa cidade de estilo europeu, de onde certamente recebeu muita influencia durante sua formação.

A mudança de perfil da cidade, e sua verticalização fizeram tombar muitas de suas obras, mas a maior parte foi salva e podem ser admiradas em vários locais. Algumas delas são famosas, como o Teatro Municipal, Pinacoteca do Estado (antiga sede do Liceu de Artes e Ofícios de SP), A Estação Pinacoteca, o Mercado municipal (Mercadão), o Palácio das Industrias, o Palácio da Justiça, o Prédio Central dos Correios, a Escola Caetano de Campos, a Casa das Rosas, entre muitas outras.

A transformação que Ramos de Azevedo promoveu na cidade foi tal, que após sua morte resolveram construir um monumento em sua homenagem, muito comum na época, e o escolhido para execução, foi o escultor ítalo-brasileiro Galileo Emendabili.

É de um conjunto de grandes esculturas e de grandes proporções, todo executado em granito branco e esculturas em bronze. O monumento, também conhecido como “Monumento ao Progresso” é composto por uma grande base retangular, com 15,5 metros de comprimento por 13 metros de largura e 5,6 metros de altura. Sobre esta base, erguem-se duas fileiras de colunas dóricas, ambas sustentando uma arquitrave onde se apóia a figura com o cavalo alado, no topo. A altura total do monumento é de 23,7 metros.

Concebida em estilo clássico, na frente e na base granito, encontra-se a figura de Ramos de Azevedo, tendo uma planta de um projeto ao colo e está rodeado por quatro figuras femininas representando alegoricamente a Arquitetura, a Pintura, a Escultura e a Engenharia; ao topo do monumento é uma alegoria do Progresso. Representa a figura do Gênio, montado em um cavalo alado, e em cuja mão repousa a deusa grega Niké, personificação da Vitória. Em sua parte traseira, há o grupo dos Construtores, sustentando o brasão da cidade de São Paulo, que simboliza os trabalhadores.

O local escolhido para a sua construção foi em frente a Liceu de Artes e Ofícios (Atual Pinacoteca), onde Ramos de Azevedo foi professor e Diretor, portanto na Av. Tiradentes, centro de São Paulo.

A inauguração em 1934 (a esquerda a atual Pinacoteca, anteriormente Liceu de Artes)

A construção foi provavelmente inteiramente realizada dentro das oficinas do Liceu de Artes e Ofícios, e após seis anos de construção, o monumento foi inaugurado em 25 de janeiro de 1934, aniversário de 380 anos da cidade. O discurso de inauguração foi do professor Anhaia Mello, que destacou a importância do arquiteto com a seguinte frase:

“Ramos de Azevedo foi o centro em torno do qual gravitou o renascimento arquitetônico da cidade de São Paulo.”

Cenário de 1952:Uma ponte será construida sobre a estrada de ferro, para melhorar a ligação da Av. Tiradentes com o Vale do Anhangabaú. O monumento está no centro da avenida logo atrás, e terá que se removido, para garantir a largura da remodelação da Avenida Tiradentes neste local.

O monumento foi sempre um esplendor devido a sua localização, mas no inicio dos anos 50, numa escalada iniciada pelo Prefeito Prestes Maia com suas ideias de mobilidade urbana através de grandes avenidas (Plano Avenidas) começa-se a discutir a transferência do monumento, inteiro ou em partes, para que não atrapalhasse o projeto de ligação entre o Anhangabaú e a avenida Tiradentes. Era a cidade priorizando o automóvel já naqueles anos, e havia um estorvo, ou seja no meio do caminho havia uma enorme estátua.

A estátua ainda na Avenida Tiradentes em 1960

Mas só em 1967, a pretexto da reformulação da Avenida Tiradentes e da construção da linha 1 do Metro (Linha norte-sul) ele foi desmontado e encostado num barracão no Liceu de Artes (atual Pinacoteca).

Permaneceu alí até 1972, quando uma concorrência para a remontagem da obra na Cidade Universitária, consegue interessados.

E assim foi transferido e reinaugurado em 1973, numa operação que contou com várias viagens de caminhões pesados, e sua nova localização passou a ser as proximidades do prédio da Escola Politécnica e do IPT onde permanece até hoje. Em 1999, também passou por uma grande reforma. O próprio escultor Galileo Emendabili, teria sido contratado para a reconstrução, mas veio a falecer.

O monumento remontado no Campus da USP-Butantã

Por não concordar com esta situação, em 1988, o então Prefeito Jânio Quadros, pediu a devolução da estátua, e a USP num total desinteresse para com a obra, solicita que o prefeito a desmonte de novo para instalar na Praça Campo de Bagatelle, próximo a Ponte da Bandeiras, o que não ocorreu. Nesta praça acabou sendo montado uma réplica do 14 Bis.

Um video do monumento na USP:

 

Pessoalmente estou mais com a ideia do Janio, e retornaria ela para o final da Avenida Tiradentes, inicio da Av. Santos Dumont, onde a linha do metrô não mais passa por baixo da avenida, e que fica a uns 600m do ponto original onde ela se encontrava em 1934.

Aliás esta região teve um outro belo monumento demolido, que era um “arco do triunfo” e ficava a 150m do monumento a Ramos e Azevedo, mas em frente a Estação da Luz.

O aspecto de homenagem ficou visível apenas aos frequentadores da USP, portanto um monumento escondido, e ironicamente o progresso da cidade acabou com a própria homenagem ao arquiteto que revolucionou São Paulo, pelo progresso…

 

Veja as imagens do detalhamento do monumento aqui :

Galeria Cronológica


Outros links:

Wiki- Galileo_Emendabili


Updated: 03/11/2015 — 10:28 am

10 Comments

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    1. Muito bom,
      Parabéns pela Tese. e obrigado por nos referenciar
      L.Amaral

  1. Carlos T Furquim

    Eu só não consigo entender como é que os outros paises conseguem tirar proveito da tecnologia e do progresso e manter a história através de seus monumentos. Com certeza o povo, os politicos e os técnicos daquelas paragens são muito mais competentes que os nossos.

    1. É Furquim, parece ser isto mesmo ! Também não há cultura em nossos gestores de se preocupar com o patrimônio histórico. Como se diz no popular “não dá Ibope”, então sempre dependemos da sorte ou de alguma situação que obrigue a encarar de frente o problema dos monumentos e de outras coisas também.

  2. Caro Luiz
    Entendo seu desejo de colocar o monumento a Ramos de Azevedo em um local com maior visibilidade. Sem dúvida, o homenageado merece.
    Mas não se pode negar a estreita relação de Ramos de Azevedo com a Escola Politécnica… Ele foi, ao lado do Prof. Paula Souza, o maior vulto dos primeiros 30 anos da escola. Sendo assim, parece-me adequada a localização atual do monumento, ali bem próximo à Poli.
    Devo também observar que o acesso ao câmpus da USP é livre, exceto aos sábados à tarde e aos domingos, por razões de segurança (mas acho que se pode conseguir autorização para a visita aos museus do câmpus).
    Sérgio Paz

    1. Sergio,
      Não posso de deixar de concordar com vc. ! Iria até mais longe, que poderíamos fazer outro monumento tão grandioso e com outros elementos de homenagem, afinal Ramos de Azevedo tem uma importancia de extrtema relevancia para SP, e pode ser homenageado inúmeras vezes e por muito tempo.
      Sei que ele tem outras homenagens pela cidade, e suas próprias construções ainda conservadas já são uma demonstração de carinho e luta de preservação, e em breve tmb. farei um post só sobre ele…
      Obrigado pelo comentário ! Luiz Amaral

  3. Pois é Amaral, um país que não preza sua história se torna uma país sem memória, incapaz de resgatar o passado para ajudar projetar o futuro! Quanto imediatismo, quanta estupidez, quanta pobreza! Obrigado por trazer estas coisas pra nós. /Abs/Lima

    1. É verdade Lima, e os monumentos são uma das maneiras de estudar e entender um pouco de nossa rica história./Obrigado pelo comentário e um abração/Amaral

  4. Excelente materia

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