Mês: junho 2021

Billings, Henry Borden e a despoluição do Rio Pinheiros – Parte 1

Um grande projeto exaltado em todas as mídias está em curso na cidade de São Paulo: a despoluição do Rio Pinheiros. Há um marketing agressivo destacando todos os benefícios do projeto e não poderia ser diferente, afinal, trata-se da tentativa de resolver um dos maiores problemas ambientais da cidade e do país.

Mas falar apenas do tema despoluição e seus possíveis resultados nos obriga a entender por que o Rio Pinheiros está em foco desde o final do século 19, pois ele desde então vem sendo usado para finalidades importantes para a cidade e para o país.

Entender isto passa por certa complexidade que não permitirá, que em apenas uma postagem seja possível documentar e até questionar o projeto em toda sua abrangência. Por esta razão dividimos a matéria em quatro postagens equacionadas de tal maneira que se conclua sobre os resultados destas intervencões e da história e da importancia do rio.

E claro que a primeira etapa desta situação é entender a história e hidrografia do rio.

A hitória do rio:

O rio pinheiros recebeu este nome pelos jesuítas, em 1560, já que haviam muitos pinheiros-do-brasil na região. Também existia na região uma aldeia indígena com mesmo nome. Com o passar do tempo suas margens foram ocupadas, tendo o bandeirante Fernão Dias com um dos proprietários de suas terra.

Ali na região também existiu um forte, o Forte Emboaçava. Com o inicio da maciça imigração a São Paulo, italianos e japoneses instalaram-se em suas margens, além de clubes náuticos e estações de energia. Outros processos migratórios ocorreram para a região com o tempo e na década de 1950, o rio foi canalizado e revertido para a criação do reservatório Billlings, que acionaria a Usina Hidrelétrica Henry Borden, em Cubatão, numa queda de 720m.

Mas algo que deu muito trabalho foi descobrir a nascente deste rio. Na realidade o Rio Pinheiros tem este nome após o Rio Jurubatuba, que é antecedido pelo Rio Grande. Este três rios formavam um único fluxo de água, antes a criação da Billings. Então vamos concentrar em entender a nascente deste fluxo d´agua na tentativa de achar a nascente do Rio Grande.

Não foi um trabalho fácil, mas a primeira tentativa registrada é o do mapeamento de 1906, realizado pela Commissão Geographica e Geologica do Estado de São Paulo, que mapeou e estudou o Estado de São Paulo da secunda metade do século 19 até os anos de 1920. Foi dado como nascente do rio uma localidade próxima a vila de Paranapiacaba, na época conhecida como alto da Serra

Mas após a análise do mapa de 1906, um novo estudo, elaborado pelo Instituto Geográfico e Geológico, de 1939, cujo diferencial deste para o primeiro é que este continha somente a área do antigo município de Santo André, já o anterior abrangia toda a região do ABC.

Este mapeamento trouxe  mais detalhes e atualizações cartográficas que o de 1906, dentre elas o reservatório Billings. Foi possível constatar que o rio Grande foi revelado estar bem mais próximo de sua nascente, entre a vila de Paranapiacaba e a divisa municipal com Mogi das Cruzes.

Houve ainda o mapeamento de 1972 elaborado pelo Instituto Geográfico e Geológico do Estado de São Paulo cujo curso d´agua segue na direção da divisa municipal com Mogi das Cruzes e finaliza próximo à curva de nível numa altitude 960 m.

Já mapeamento de 1984, que foi elaborado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, em 1984 ,  concluiu com um maior detalhamento que indicava um traçado mais extenso para o rio e uma altitude mais elevada  do que foi revelado, anteriormente. Pouco antes em 1981 com o levantamento da Emplasa – Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S. A., constatou-se que o curso d’água analisado de mapas anteriores, entre os divisões de águas de Santo André com Santos e Mogi das Cruzes, identificou ramificações que levavam a 7 diferentes nascentes, das quais duas delas seriam mais fortes candidatas a dar origem ao rio Grande. Para eliminar todas as dúvidas de qual das nascentes seria a origem o rio Grande, foi realizado um trabalho de campo no jargão cientifico e uma pequena expedição foi destinada a área com a finalidade de identificar qual das duas nascentes seria a do rio Grande, que seria na pratica onde nasceria o fluxo de agua que geraria o Rio Pinheiros. A expedição foi iniciada em 26 de fevereiro de 2013 e depois do exaustivo trabalho de campo, onde observações e dados foram coletados, concluiu-se que a nascente que dá origem aos rios Grande ou Jurubatuba e Pinheiros é numa encosta, sem acúmulo de agua inicial,como ocorre em outros nascidouros de rios e que surge num declive pontual.

Resumindo a nascente está localizada no Município de Santo André, no interior da Unidade de Conservação Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba, a uma altitude de 1.095 metros em relação ao nível do mar.

Está cerca de 80 metros de distância da divisa municipal entre Santo André e Santos.

Ainda com o uso do Google Earth foram obtidos dados quanto à foz do rio Pinheiros. Sua foz (no rio Tietê) está na altitude de 720 metros em relação ao nível do mar, a 84 km de distância, seguindo-se pelo curso do rio, da nascente do rio Grande e a 55 km de distância, em linha reta, da nascente do rio Grande.

Apresenta portanto um desnível de 375 m em relação à posição da nascente. 

Como visto somente em 2013 foi divulgado a nascente do fluxo de água que dáva origem ao Rio Pinheiros. Mas muito antes disto, o fluxo de agua dos rios Jurubatuba/Pinheiros sofrerá alterações de suas nascentes que perdura até os dias atuais, já que a construção da barragem (Pedreira) que deu origem à represa Billings, na década de 1920, criou uma ruptura em seu curso natural, que descaracterizou a noção de continuidade desses corpos hídricos, e o rio pinheiros passou a ter sua origem na Billings através do rio Jurubatuba e na Guarapiranga através do rio Guarapiranga.(veja abaixo)

A Light (The São Paulo Tramway, Light and Power Company Lt.), o Rio Pinheiros e o rio Guarapiranga..

Em 23 de setembro de 1901 foi construída no rio Tietê, a Usina de Parnaiba, que foi a primeira hidrelétrica da Light instalada no Brasil e a primeira do país a contar com barragem elevada a mais de 15 metros de altura.

Ela está localizada no município de Santana do Parnaíba, na grande São Paulo, no extremo oeste da cidade, e sua usina teve sua a capacidade inicial de geração que era de 2 megawatts (MW), ampliada  para 12.8MW, por volta de 1912 .

Este projeto de ampliação teve uma execução que durou aproximadamente 20 meses ocupou ao menos 1000 trabalhadores, nascendo assim a vila de Parnaiba. 

Por conta do grande consumo de água exigido pelas turbinas desta usina, a empresa foi obrigada a domesticar a vazão de águas do rio Tietê. 

Então a Light com seus engenheiros sempre ousados e competentes encontrou uma solução que usaria o rio pinheiros e um de seus afluentes, o rio Guarapiranga para dar este volume necessário.

Mas seria necessário construir um reservatório que garantisse volume de água para o rio pinheiros e dai para a usina de Parnaíba do outro lado da cidade

Sabe-se que o rio Guarapiranga éra formado por dois rios, o rio Embu Guaçu e o rio Embu Mirim.  Desta maneira represando a origem do rio Guarapiranga,  foi construído o reservatório Guarapiranga, que entrou em operação em 1908, garantindo os vazão e volume de água para abastecer Parnaíba usando todo o percurso do rio pinheiros e de parte do Tietê para isto.

Historicamente esta foi a primeira vez que o Rio Pinheiros começou a ser usado em projetos para gerar energia, naquele período onde SP começava a dar sinais de grande crescimento.

Em homenagem a um diretor da Empresa, em 1949 a Usina de Parnaíba foi rebatizada como Usina Edgard de Souza. Este sistema permitia o Rio Pinheiros correr em seu sentido natural da zona sul para a zona oeste da cidade de São Paulo.

Mas em 1952, ela deixou de ser geradora de energia e foi transformada apenas em usina elevatória e passou partir de então, bombear as águas do rio Tietê no sentido da capital aumentando o volume de água do rio até capital (cebolão) e num processo conhecido como reversão do rio Pinheiros aumentar volume na Billings para a geração de eletricidade na Usina de Henry Borden, lá em Cubatão. Novamente o Rio Pinheiros sendo “ajustado” para ajudar na geração de energia elétrica na época.

Complexo urbanístico conhecido como cebolão, onde é possível observar a foz do rio Pinheiros no rio Tietê, e neste as comportas que garantem o desvio do rio, para o canal Pinheiros num processo engenhoso conhecido como reversão do rio Pinheiros

Em 1982 a usina elevatória também foi desativada para dar lugar apenas a atual Barragem Edgard de Souza. No local foram realizadas obras civis com a finalidade de aumentar a capacidade de escoamento do rio Tietê, e ajudar no combate as enchentes na cidade de São Paulo. Vale registrar que esta barragem e a barragem de Pirapora, com a poluição do Rio Tietê produzem aquele mar de espuma química no municipio de Pirapora do Bom Jesus, vizinho de Santana do Parnaiba.

Continua – Parte 2

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Updated: 02/06/2021 — 12:22 pm