Um grande projeto exaltado em todas as mídias está em curso na cidade de São Paulo: a despoluição do Rio Pinheiros. Há um marketing agressivo destacando todos os benefícios do projeto e não poderia ser diferente, afinal, trata-se da tentativa de resolver um dos maiores problemas ambientais da cidade e do país.
Mas falar apenas do tema despoluição e seus possíveis resultados nos obriga a entender por que o Rio Pinheiros está em foco desde o final do século 19, pois ele desde então vem sendo usado para finalidades importantes para a cidade e para o país.
Entender isto passa por certa complexidade que não permitirá, que em apenas uma postagem seja possível documentar e até questionar o projeto em toda sua abrangência. Por esta razão dividimos a matéria em quatro postagens equacionadas de tal maneira que se conclua sobre os resultados destas intervencões e da história e da importancia do rio.
E claro que a primeira etapa desta situação é entender a história e hidrografia do rio.
A hitória do rio:
O rio pinheiros recebeu este nome pelos jesuítas, em 1560, já que haviam muitos pinheiros-do-brasil na região. Também existia na região uma aldeia indígena com mesmo nome. Com o passar do tempo suas margens foram ocupadas, tendo o bandeirante Fernão Dias com um dos proprietários de suas terra.
Ali na região também existiu um forte, o Forte Emboaçava. Com o inicio da maciça imigração a São Paulo, italianos e japoneses instalaram-se em suas margens, além de clubes náuticos e estações de energia. Outros processos migratórios ocorreram para a região com o tempo e na década de 1950, o rio foi canalizado e revertido para a criação do reservatório Billlings, que acionaria a Usina Hidrelétrica Henry Borden, em Cubatão, numa queda de 720m.
Mas algo que deu muito trabalho foi descobrir a nascente deste rio. Na realidade o Rio Pinheiros tem este nome após o Rio Jurubatuba, que é antecedido pelo Rio Grande. Este três rios formavam um único fluxo de água, antes a criação da Billings. Então vamos concentrar em entender a nascente deste fluxo d´agua na tentativa de achar a nascente do Rio Grande.
Não foi um trabalho fácil, mas a primeira tentativa registrada é o do mapeamento de 1906, realizado pela Commissão Geographica e Geologica do Estado de São Paulo, que mapeou e estudou o Estado de São Paulo da secunda metade do século 19 até os anos de 1920. Foi dado como nascente do rio uma localidade próxima a vila de Paranapiacaba, na época conhecida como alto da Serra
Mas após a análise do mapa de 1906, um novo estudo, elaborado pelo Instituto Geográfico e Geológico, de 1939, cujo diferencial deste para o primeiro é que este continha somente a área do antigo município de Santo André, já o anterior abrangia toda a região do ABC.
Este mapeamento trouxe mais detalhes e atualizações cartográficas que o de 1906, dentre elas o reservatório Billings. Foi possível constatar que o rio Grande foi revelado estar bem mais próximo de sua nascente, entre a vila de Paranapiacaba e a divisa municipal com Mogi das Cruzes.
Houve ainda o mapeamento de 1972 elaborado pelo Instituto Geográfico e Geológico do Estado de São Paulo cujo curso d´agua segue na direção da divisa municipal com Mogi das Cruzes e finaliza próximo à curva de nível numa altitude 960 m.
Já mapeamento de 1984, que foi elaborado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, em 1984 , concluiu com um maior detalhamento que indicava um traçado mais extenso para o rio e uma altitude mais elevada do que foi revelado, anteriormente. Pouco antes em 1981 com o levantamento da Emplasa – Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S. A., constatou-se que o curso d’água analisado de mapas anteriores, entre os divisões de águas de Santo André com Santos e Mogi das Cruzes, identificou ramificações que levavam a 7 diferentes nascentes, das quais duas delas seriam mais fortes candidatas a dar origem ao rio Grande. Para eliminar todas as dúvidas de qual das nascentes seria a origem o rio Grande, foi realizado um trabalho de campo no jargão cientifico e uma pequena expedição foi destinada a área com a finalidade de identificar qual das duas nascentes seria a do rio Grande, que seria na pratica onde nasceria o fluxo de agua que geraria o Rio Pinheiros. A expedição foi iniciada em 26 de fevereiro de 2013 e depois do exaustivo trabalho de campo, onde observações e dados foram coletados, concluiu-se que a nascente que dá origem aos rios Grande ou Jurubatuba e Pinheiros é numa encosta, sem acúmulo de agua inicial,como ocorre em outros nascidouros de rios e que surge num declive pontual.
Resumindo a nascente está localizada no Município de Santo André, no interior da Unidade de Conservação Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba, a uma altitude de 1.095 metros em relação ao nível do mar.
Está cerca de 80 metros de distância da divisa municipal entre Santo André e Santos.
Ainda com o uso do Google Earth foram obtidos dados quanto à foz do rio Pinheiros. Sua foz (no rio Tietê) está na altitude de 720 metros em relação ao nível do mar, a 84 km de distância, seguindo-se pelo curso do rio, da nascente do rio Grande e a 55 km de distância, em linha reta, da nascente do rio Grande.
Apresenta portanto um desnível de 375 m em relação à posição da nascente.
Como visto somente em 2013 foi divulgado a nascente do fluxo de água que dáva origem ao Rio Pinheiros. Mas muito antes disto, o fluxo de agua dos rios Jurubatuba/Pinheiros sofrerá alterações de suas nascentes que perdura até os dias atuais, já que a construção da barragem (Pedreira) que deu origem à represa Billings, na década de 1920, criou uma ruptura em seu curso natural, que descaracterizou a noção de continuidade desses corpos hídricos, e o rio pinheiros passou a ter sua origem na Billings através do rio Jurubatuba e na Guarapiranga através do rio Guarapiranga.(veja abaixo)
A Light (The São Paulo Tramway, Light and Power Company Lt.), o Rio Pinheiros e o rio Guarapiranga..
Em 23 de setembro de 1901 foi construída no rio Tietê, a Usina de Parnaiba, que foi a primeira hidrelétrica da Light instalada no Brasil e a primeira do país a contar com barragem elevada a mais de 15 metros de altura.
Ela está localizada no município de Santana do Parnaíba, na grande São Paulo, no extremo oeste da cidade, e sua usina teve sua a capacidade inicial de geração que era de 2 megawatts (MW), ampliada para 12.8MW, por volta de 1912 .
Este projeto de ampliação teve uma execução que durou aproximadamente 20 meses ocupou ao menos 1000 trabalhadores, nascendo assim a vila de Parnaiba.
Por conta do grande consumo de água exigido pelas turbinas desta usina, a empresa foi obrigada a domesticar a vazão de águas do rio Tietê.
Então a Light com seus engenheiros sempre ousados e competentes encontrou uma solução que usaria o rio pinheiros e um de seus afluentes, o rio Guarapiranga para dar este volume necessário.
Mas seria necessário construir um reservatório que garantisse volume de água para o rio pinheiros e dai para a usina de Parnaíba do outro lado da cidade
Sabe-se que o rio Guarapiranga éra formado por dois rios, o rio Embu Guaçu e o rio Embu Mirim. Desta maneira represando a origem do rio Guarapiranga, foi construído o reservatório Guarapiranga, que entrou em operação em 1908, garantindo os vazão e volume de água para abastecer Parnaíba usando todo o percurso do rio pinheiros e de parte do Tietê para isto.
Historicamente esta foi a primeira vez que o Rio Pinheiros começou a ser usado em projetos para gerar energia, naquele período onde SP começava a dar sinais de grande crescimento.
Em homenagem a um diretor da Empresa, em 1949 a Usina de Parnaíba foi rebatizada como Usina Edgard de Souza. Este sistema permitia o Rio Pinheiros correr em seu sentido natural da zona sul para a zona oeste da cidade de São Paulo.
Mas em 1952, ela deixou de ser geradora de energia e foi transformada apenas em usina elevatória e passou partir de então, bombear as águas do rio Tietê no sentido da capital aumentando o volume de água do rio até capital (cebolão) e num processo conhecido como reversão do rio Pinheiros aumentar volume na Billings para a geração de eletricidade na Usina de Henry Borden, lá em Cubatão. Novamente o Rio Pinheiros sendo “ajustado” para ajudar na geração de energia elétrica na época.
Em 1982 a usina elevatória também foi desativada para dar lugar apenas a atual Barragem Edgard de Souza. No local foram realizadas obras civis com a finalidade de aumentar a capacidade de escoamento do rio Tietê, e ajudar no combate as enchentes na cidade de São Paulo. Vale registrar que esta barragem e a barragem de Pirapora, com a poluição do Rio Tietê produzem aquele mar de espuma química no municipio de Pirapora do Bom Jesus, vizinho de Santana do Parnaiba.
Muito bom Amaral. Belíssimo relato. Um abração em todos vocês. Paz
Pimenta
Genial Luiz, muito bom!
Apesar de ter morado em São Paulo algum tempo, não tinha a menor idéia que o Pinheiros tem uma história tão interessante.
Muito obrigado! Abraço,
Marcelo
Ótima pesquisa! Como moro bem próximo do Rio Pinheiros e pescador, muito me interessa saber como e quando iremos voltar a poder praticar esportes deste gênero neste rio.
Fico feliz em saber a história da nossa cidade, que ficaram perdidas nas poeiras da história e sendo resgatadas por pessoas como você!
Esses dias, assistindo aos vídeos de um rapaz que faz tomadas aéreas com drone, de vários pontos de São Paulo (Canal iTechdrones), pude ver muitas evoluções das obras e fiquei bastante impressionado com as obras neste rio! E pasmem! Tem pontos onde está bastante evoluído, que até peixes tem!! Eram tilápias nadando em números razoáveis!! Fora, claro, as capivaras e garças.
Que continue nesta sua obra de nos passar resgatando o passado glorioso desta cidade!
Abs!
Obrigado Tanaka pelo comentário. Eu também conheço e sou inscrito o iTechdrones. Me preocupa, como eles vão manter o rio despoluído, como falo na ultima parte da matéria (Parte 4).