Certamente aos falarmos de catástrofes nucleares automaticamente lembraremos das bombas de Hiroshima e Nagasaki (1945), Three Mile Island (1979), Tchernobyl (1986) e Fukushima (2011) e até do acidente do Césio-137 no Brasil em Goiania (1987), mas uma história guardada sob o manto de ferro comunista na antiga URSS, revelou décadas depois uma verdadeira tragédia.
Uma história de terror que vai muito além de ciência, pois a URSS teria realizado de 1949 até 1989, 456 testes nucleares numa região do Cazaquistão denominada “The Polygon” , também conhecida como STS ou Semipalatinsk-21, ao lado da cidade de Kurchatov.
Os testes foram sempre realizados sem levar em consideração os efeitos sobre as pessoas e sobre o meio ambiente e expondo centenas de milhares de pessoas a níveis perigosos de radiação. Até agora tem-se a crença que mais de 500 mil pessoas tenham sofrido diretamente com testes.
Esta exposição foi certamente escondida por décadas pelas autoridades soviéticas e só vindo à luz após a derrocada comunista e socialista do leste europeu. Ainda assim o local de testes só foi fechado em 1991.
Durante a era Soviética, o povo de Semipalatinsk, foi usado como cobaia nos inúmeros testes atômicos e hoje eles tem que conviver com as consequências de canceres, deformações e outros flagelos ocasionados pela extensa exposição. Como afirma o Dr Toleukhan Nurmagambetov, nestas ultimas décadas, uma em cada 20 crianças nasceram como defeitos congênitos. Ele também trabalha para introduzir uma pesquisa genética para impedir que aqueles com
genes suspeitos venham dar à luz.
Embora aparentemente antipático, o Dr Toleukhan Nurmagambetov se esforça exaustivamente para aplicar suas práticas e cuidar de seus pacientes, que são vítimas inocentes da irresponsabilidade comunista e da Guerra Fria.
A Guerra Fria como sabemos era a corrida armamentista nuclear pode nunca ter entrado em erupção como uma guerra nuclear, mas ainda resultou na destruição e danos irreparáveis ao meio ambiente que junta-se a outras catástrofes mencionadas no inicio do texto.
Estes testes nucleares a sombra do segredo militar e do sistema político vigente, em locais da antiga União Soviética, como Semipalatinsk deixou para trás um rastro de radiação, detritos químicos, morte de animais (entre eles 150.000 antílopes) e milhares de cidadãos envenenadas. Estes locais, muitos dos quais no Cazaquistão, eram localidades das mais bem guardadas na antiga União Soviética, até o seu colapso em 1991.
O fotógrafo Nadav Kander descobriu alguns desses locais e partiu para registrar o que restou, mas não havia muito, pois a maioria tinha sido destruída após o colapso da União Soviética.
Este cenário de décadas de testes nucleares nas estepes do Cazaquistão são os responsáveis por um número alarmante de problemas de saúde sofridos por residentes na área, a ponto que cientistas estão tentando determinar se as vítimas estão repassando genes defeituosos aos seus filhos
Alguns moradores como Zikesh um senhor de 70 anos de idade que reside no local culpa seu câncer nos testes da bomba nuclear da era soviética, afirma: “Ela parecia um cogumelo, ela crescia mais e mais. Parecia um pequeno terremoto”
Ele está passando por tratamento para câncer. Ele é uma das muitas pessoas desta região do nordeste do Cazaquistão que culpam anos de testes nucleares soviéticos como danosos para sua saude, que começou em 1949, quando a primeira bomba atômica da União Soviética foi detonada na área de estepe conhecida como o Polígono. Os americanos chamaram esta bomba de Joe-1 e muitas outras Joe´s foram explodidas, nos 40 anos de testes.
Todos os testes realizados afetaram milhares num território de 300.000 quilômetros quadrados em torno do Polígono e e expostos a altos níveis de radiação por anos.
Saim Balmukhanov, um radiologista cazaque veterano, foi um dos primeiros médicos a ser admitido para tratar as aldeias afetadas pela radiação nos anos 1950.
“Nós descobrimos que leucemia entre crianças eram 10 vezes superior à média Soviética e entre os adultos era cinco vezes maior. As autoridades soviéticas, seguindo o dito autoritário da mentira dizia que era por causa das más condições de vida dos cazaques”, dizia Saim.
“Muitas mulheres nessas aldeias estavam sofrendo de abortos e muitos bebês nasceram com defeitos congênitos. Mas as pessoas estavam se escondendo, porque na cultura cazaque ninguém iria se casar e ter uma família.” Hoje como país independente as autoridades do Cazaquistão reconhecem os que sofreram por testes nucleares e garante para que recebam uma modesta pensão de invalidez.
Um deles chamado Berek na ocasião com trinta anos, e nascido na aldeia de Znamenka, dentro dos limites da precipitação da radiação, recebe esta pequena pensão de invalidez por seu tumor facial maligno, e embora tenha sido removido quando um jornalista italiano levantou fundos para ele ser tratado na Itália, o tumor acabou voltando.
“É um processo demorado. Tem-se que fornecer tantos documentos para provar a ligação com os testes nucleares”, reclama Dariga Murzabekova que era tratada no Instituto de Medicina de Radiação da Semey.
“Minha mãe também teve dois acidentes vasculares cerebrais, ela morreu após o segundo”, disse ela.
“Então, talvez eu tenha herdado isso da minha mãe. Minha avó e avô morreram também de câncer. Eles eram da região Abai, do Polígono”.
E isso é o que os cientistas agora estão tentando entender , se as crianças nascidas de pais ou avós que foram expostas à radiação herdaram genes defeituosos danificados pelos testes nucleares.
“Há novos métodos de estudo do genoma humano, não que seremos capazes de prever mutações, mas é possível prever a susceptibilidade a determinadas doenças nos últimos estágios do desenvolvimento fetal”, diz Galina Bilyalova, uma investigadora do Instituto.
Além disto “Se você olhar para as condições de vida nas aldeias próximas à Polígono, eles têm grandes problemas com higiene, más condições de vida, não há água limpa, as pessoas não comem bem, porque a agricultura não cresce mais nesta área.”
As estatísticas nacionais mostram que a região leste do Cazaquistão tem uma das maiores taxas de mortalidade no país.
O câncer é uma vez e meia mais prevalente aqui do que no resto do Cazaquistão.
“Sim defeitos de nascimento, câncer e outros problemas de saúde existem em toda parte no mundo, a única diferença é que aqui acontece duas vezes mais”, afirma Galina.
“Se eu perdi metade da minha família de câncer e vejo a cada dia as crianças nascerem com diversos problemas, o que mais há para se culpar do que a área do Polígono”, afirma.
Os riscos envolvidos nesses testes nucleares e seu impacto ambiental também levou à formação de uma ONG conhecida como “Movimento Nevada Semipalatinsk “, que, como o nome indica, chegou outro lado do Atlântico que uniram-se com protestos nos EUA. Dentro da URSS este foi um movimento pioneiro, em parte possível graças Gorbachev e sua Perestroika. A pressão desta ONG foi geralmente vista como uma das razões da suspensão de testes nucleares no Poligono em 1989.
Com o colapso da União Soviética e pelo pelo fato do Cazaquistão se tornar um Estado independente, o presidente Nazarbayev decidiu rapidamente em 1991 que todos os testes nucleares no Polígono deveriam parar e o fechamento do local completamente.
Quinze anos depois, já em 2006, o Cazaquistão e os seus países vizinhos da Ásia Central Uzbequistão e Turquemenistão assinaram um tratado para toda a região para serem “livres de armas nucleares”.
No entanto, alguma atividade nuclear ainda existe no STS, embora não envolvendo testes de armas nucleares militares. O Centro Nacional Nuclear (NNC) do Cazaquistão em Kurchatov, que é responsável pela área do Polígono, ainda mantém dois reatores científicos e outras instalações de pesquisa nuclear. Também é preciso lembrar que o Cazaquistão sempre teve a ambição de desenvolver geração de energia nuclear em maior escala para atender suas demandas de energia! Além disso, o NNC é o responsável pela distribuição de inquéritos, monitoração e controle da radiação dentro da área do Polígono.
As imagens aqui mostradas, relatam as situações do local do Poligono (Semipalatinsk) e de pessoas afetadas documentadas pelos poucos repórteres e canais da imprensa que se arriscaram para ir até o local, e é mais uma catástrofe que se junta a outras desde que a energia nuclear foi descoberta e usada para os mais variados fins. Fica mais este lamentável registro, quem sabe como mais uma lição dos perigos para se lidar com esta forma de tecnologia.
Veja também:
- History of the Semipalatinsk Test Site
- Tchernobyl, a lição não aprendida
- Kamikazes nucleares japoneses…
- Alemanha aprende com Fukushima
- Os filhos de Fukushima
Bibliografia/Fontes:
- Jacobs, Harrison – The Secret Sites Where The Soviet Union Exploded Atomic Bombs, Businessinsider – 19/09/2014
- © BBC – Soviet nuclear tests leave Kazakh fallout – 06/09/2009
- © Hohenhaus, Peter – The dark-tourism – 2010-2015
- © Johnson, K. – The Polygon: Former Soviet Union nuclear test site on Kazakh Steppe now open for tours, ABC News-Au – 13/08/2015
- Miklos, Vincze – The Tragic Story of the Semipalatinsk Nuclear Test Site, io9 – 05/03/2013
- Baynham, Jacob – From Russia, with Radiation, Slate – 02/09/2013
- Boston News, Getty Images – Kazakhstan’s radioactive legacy – 09/11/2009
- Wiki – Semipalatinsk Test Site
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Many thanks!! Donn
An interesting post ! John